Troca de valores pode transformar vítima em cúmplice no esquema do ‘Rei do Pix’

Você se depara com um anúncio no Instagram sobre uma oportunidade de ouro. Fazendo uma transferência por Pix você pode receber de volta até 10 vezes mais do que enviou. Se transferir R$ 50, recebe R$ 500, se transferir R$ 100, recebe R$ 1 mil, e assim por diante. Tudo feito em poucos minutos.

 

Os anunciantes, que costumam se identificar como “reis” ou “rainhas do Pix”, por vezes até deixam claro se tratar de um esquema ilegal. Mas isso não impede que muita gente participe, atraída pela oportunidade de ganhar dinheiro fácil.

Alguns golpistas anunciam o esquema como uma “oportunidade de investimento”. Imagem: Reprodução/Twitter.

Em alguns casos, após a realização da transferência, o golpista faz o saque imediato do valor e deixa a vítima a ver navios. Em outros, o criminoso até faz o depósito com o valor prometido, até 10 vezes maior que o enviado inicialmente, mas a alegria da vítima/cúmplice não dura muito tempo, já que as instituições financeiras ou as autoridades podem bloquear o dinheiro, que é oriundo de crimes.

De onde vem o dinheiro?

Alguns perfis de “Reis do Pix” já deixam claro se tratar de um esquema criminoso e que o dinheiro transferido de volta tem origem ilegal. Eles dizem fazer a transferência da conta de laranjas, de cartões clonados ou de contas bancárias sequestradas.

O esquema funciona como uma espécie de lavagem de dinheiro, em que o criminoso se livra de um dinheiro com origem ilegal, que poderia ser bloqueado pelas autoridades e bancos, e o troca por um dinheiro legal, que poderá sacar e usar livremente.

É perigoso participar do esquema do “Rei do Pix”?

O esquema do Rei do Pix vem se tornando cada vez mais comum nas redes sociais e atrai pessoas desesperadas, atrás de dinheiro fácil. Mas ele esconde muitos riscos, como explicam os especialistas.

O primeiro e mais evidente risco é o de perder dinheiro para os golpistas. Mas outro risco, talvez ainda mais grave, é o de ser considerado pela Justiça como cúmplice do esquema.

“Se preliminarmente não teve conhecimento, teoricamente a pessoa não seria responsabilizada. Mas em geral, nesse tipo de fraude, a pessoa sabe, porque não existe técnica de dinheiro fácil. Não tem explicação para uma pessoa fazer uma transferência de R$ 50, receber R$ 1.000 de volta e achar que se trata de uma transação normal”, explicou à Folha de S. Paulo Thiago Chinellato, delegado da Divisão de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de São Paulo.

A recomendação dos especialistas é não participar de esquemas que prometem dinheiro fácil. E para quem fez transferência para algum Rei do Pix, sem saber do que se tratava, a recomendação é entrar em contato imediatamente com o banco para tentar bloquear ou reaver os valores.

Amaury Nogueira
Nascido em Manga, norte de Minas Gerais, mora em Belo Horizonte há quase 10 anos. É graduando em Letras - Bacharelado em Edição, pela UFMG. Trabalha há três anos como redator e possui experiência com SEO, revisão e edição de texto. Nas horas vagas, escreve, desenha e pratica outras artes.