Inflação da carne: esta solução pode ser uma alternativa para aliviar a alta dos preços

O preço das carnes já aumentou 38% nos últimos 12 meses até maio, de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE. A inflação desses itens não ocorre apenas no Brasil e é uma tendência de longo prazo, ocasionada pelo aumento do consumo. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que a produção de carnes precisa aumentar 70% até 2050 para dar conta da maior demanda global.

Uma novidade que está sendo desenvolvida em laboratórios espalhados pelo mundo pode ser a solução para tornar a carne mais acessível e, portanto, mais barata para os consumidores. A carne desenvolvida em laboratório ainda pode parecer uma opção “exótica” ou desagradável para muita gente, mas ela se torna cada dia mais uma realidade.

O avanço das técnicas de produção já garante um sabor e uma textura semelhantes ao da carne original, afirmam os cientistas. Além disso, é possível alterar os índices de colesterol, gordura, proteínas, vitaminas, minerais e outros nutrientes, tornando a carne artificial mais saudável que a oriunda de animais vivos.

Pensando no potencial desse produto, gigantes da indústria alimentícia estão investindo em startups ou em iniciativas próprias de pesquisa e desenvolvimento da “proteína cultivada”, nome que parece ter um melhor apelo comercial.

A brasileira JBS, líder mundial em produção de carne, assumiu em 2021 o controle da BioTech Foods, na Espanha, com um aporte de US$ 41 milhões em investimentos. Em maio deste ano, a companhia anunciou a criação do JBS Biotech Innovation Center, um centro de pesquisas em Florianópolis que receberá investimento de US$ 60 milhões. Ambos os movimentos refletem a intenção da JBS de estar na dianteira do desenvolvimento da carne artificial.

“Temos o desafio de baixar os custos de produção, o que deveremos conseguir com o aumento da escala. Para isso, é necessária a estrutura tecnológica para avançar em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil tem uma força agroindustrial muito grande, que pode ajudar”, disse ao Estadão a vice-presidente do JBS Biotech Innovation Center, Fernanda Beti.

Como é produzida a carne de laboratório?

As técnicas de produção da carne artificial podem variar, mas, de modo geral, elas envolvem as seguintes etapas:

  1. Células-tronco são retiradas dos animais vivos
  2. As células são isoladas em laboratório, onde recebem nutrientes para proliferar
  3. Elas são transferidas para grandes biorreatores, onde podem se proliferar mais rapidamente
  4. Depois, são separadas em biorreatores específicos, conforme o tipo de carne
  5. A carne artificial é embalada e preparada para a venda

Carne de laboratório traz benefícios?

Os entusiastas da carne artificial apontam diversas vantagens em relação ao modelo atual de consumo, mas ainda existem problemas a serem resolvidos na nova tecnologia.

Como benefícios ambientais, a proteína cultivada pode reduzir consideravelmente a emissão de gases do efeito estufa e demanda 99% menos espaço para ser produzida que a carne convencional, de acordo com um estudo de 2011 da Universidade de Oxford.

Mas especialistas também apontam que a carne produzida em laboratório necessita de grandes quantidades de plástico, água e produtos químicos para desinfecção de equipamentos e ambientes, o que pode anular seu benefício ambiental.

Com relação aos benefícios para a saúde humana, as opiniões também parecem divididas. Apesar da possibilidade de diminuir componentes nocivos, como gordura e colesterol, e aumentar os benéficos, como vitaminas e minerais, a carne artificial necessita de altas doses de hormônios para crescer em pouco tempo.

Porém, no fim das contas, o fator econômico é que realmente deve determinar a expansão dessa tecnologia. Com o crescimento da demanda mundial por alimentos, as empresas do setor se sentirão cada dia mais pressionadas a buscar alternativas para a carne convencional.

Amaury NogueiraAmaury Nogueira
Nascido em Manga, norte de Minas Gerais, mora em Belo Horizonte há quase 10 anos. É graduando em Letras - Bacharelado em Edição, pela UFMG. Trabalha há três anos como redator e possui experiência com SEO, revisão e edição de texto. Nas horas vagas, escreve, desenha e pratica outras artes.