Uma reportagem do UOL, realizada em parceria com o Centro Latino-Americano de Investigação Jornalística (CLIP) e outros veículos, da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala e México, revelou que os governos desses países, mais o do Brasil, gastaram pelo menos 112,9 milhões de dólares (R$ 553 milhões) nos últimos 5 anos em armas “não letais”.
Esse tipo de armamento, usado para reprimir protestos de cidadãos na região, costuma ser apresentado pelo poder público e pelas empresas que o comercializam como uma alternativa às armas de fogo convencionais. Como “armas pacíficas”, elas salvariam vidas de cidadãos em abordagens policiais e contenção de protestos e tumultos.
O que a reportagem revela, no entanto, é que as armas não letais causaram pelos menos 33 mortes e feriram gravemente, com sequelas para toda a vida, outras 170 pessoas nos países analisados. Dessas ocorrências, 187 foram em protestos.
O Brasil foi o país que mais gastou com armas não letais, US$ 30,39 milhões desde 2018, sendo o maior gasto no ano passado (US$ 11,4 milhões). A Colômbia vem em segundo lugar, com uma despesa de US$ 25,18 milhões desde 2017, mais concentrada em 2019 e 2021.
Na terceira colocação, o Chile usou em cinco anos US$ 18,94 milhões, com gastos concentrados em 2019 e 2020, durante o governo de Sebastián Piñera. Já na Argentina, quarta colocada com US$ 13,66 milhões, a maior parte das compras ocorreu em 2017 e 2018, no governo de Mauricio Macri.
Intercâmbio de armas
Além do grande volume de compras, houve um intenso intercâmbio de armas não letais entre governos aliados. A Bolívia, em especial, que não tem dados disponíveis sobre os gastos nos últimos 3 anos, recebeu armas do governo de Macri, da Argentina, e do governo de Lenín Moreno, do Equador, quando enfrentava protestos contra a presidente Jeanine Añez.
A reportagem também revela que boa parte das armas não letais usadas na região veio do Brasil, fornecidos principalmente pela Condor, uma empresa com sede em Nova Iguaçu (RJ). Desde 2018, a Condor fez vendas de US$ 8,8 milhões para 12 países latino-americanos. O maior volume foi para o Chile, com US$ 6,5 milhões de dólares entre 2019 e 2021, através de intermediários.
O aumento dos gastos nesse tipo de armamento reflete a preocupação dos governos da região com protestos populares e contribui para o aumento da repressão, feita com armas que, na prática, são bem letais.