- Alta no preço dos alimentos está relacionada ao aumento da exportação;
- Alta na inflação influencia o valor dos alimentos;
- Açúcar é o produto com a maior alteração no preço.
Ao contrário do que os brasileiros pensam, a alta no valor dos alimentos não é uma exclusividade do Brasil. O mundo inteiro tem enfrentado dificuldades neste quesito que fomenta a inflação global cada vez mais.
Embora a alta no valor dos alimentos não tenha atingido somente o Brasil, é aqui onde a situação se encontra em um dos piores patamares devido à alta do dólar.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os países que compõem o G20 podem ser afetados por uma inflação de 3,7% até o final do ano.
No entanto, esta é apenas uma média que abrange todo o grupo. No caso específico do Brasil, a estimativa pode dobrar, chegando a 7,2% e ficando atrás apenas da Argentina com 47% e da Turquia com 17,8%.
Ainda assim, o presidente da República, Jair Bolsonaro, tem o hábito de minimizar o cenário pelo qual o Brasil passa com a alta no valor dos alimentos, atribuindo a responsabilidade a um contexto global.
Foi o que o chefe do Executivo fez na última semana, ao fazer uma comparação entre os preços cobrados no Brasil e nos Estados Unidos da América (EUA), por exemplo.
“Tá reclamando que está alto aqui? Lá também está. Essa crise é no mundo todo. Não só no Brasil”, completou Bolsonaro.
Alta global no valor dos alimentos
No mês de setembro, o índice de alimentos apresentado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) atingiu uma média de 130 pontos. Uma alta de 1,5 ponto, o equivalente a 1,2% em comparação ao mês de agosto e de 32,1 pontos, 32,8% em relação ao mesmo período em 2020.
Segundo a FAO, o resultado mensal atingiu o nível mais alto em uma década, sendo impulsionado pela alta nos preços de cereais e óleos vegetais, na maioria.
De acordo com o coordenador do curso de economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Allexandro Mori Coelho, em parte a alta no valor dos alimentos no âmbito global ocorreu em virtude da queda na oferta relacionada às condições climáticas.
É o caso do preço do açúcar que, em virtude das geadas combinadas às secas contínuas que provocaram a redução na safra do Brasil. Desta forma, o país que é o principal exportador mundial do produto precisou aumentar o preço cobrado pelo mesmo.
Já no que compete ao preço dos óleos vegetais, o aumento está vinculado à queda da produção e à retenção de reservas na Malásia com o propósito de compensar e controlar a redução dos estoques.
Enquanto isso, o preço dos cereais, sobretudo do trigo, aumentou devido às expectativas voltadas a safras menores situadas nos principais países exportadores, como os EUA, o Canadá, a Rússia, entre outros.
Contudo, mesmo diante das altas expressivas nos valores, aconteceu um fator interessante e relevante. A procura por produtos alimentícios cresceu junto ao controle gradativo da pandemia da Covid-19 e, por consequência, das atividades econômicas em diversos países.
Agravo do cenário brasileiro
Mesmo diante das alegações no âmbito global, a alta no valor dos alimentos no Brasil possui outras justificativas. Em território brasileiro, o impacto está relacionado a diversos fatores, um deles é o acúmulo em alta de 14,66% referente ao período de 12 meses.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o destaque dos preços mais altos vão para o açúcar com 44%, o óleo de soja com 32% e as carnes com 25%.
Para o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), a alta no valor dos alimentos no Brasil aconteceu em virtude da valorização destes mesmos produtos no mercado internacional.
Outro justificativa está relacionada à alta disparada do dólar, que subiu 29,33% em 2020 e já acumula 6,33% em 2021. A moeda já tem sido vendida por mais de R$ 5,50. Ele ainda menciona a desvalorização do real, colocando o Brasil no papel de vitrine de promoção.
“Muitos países, principalmente da Ásia, querem comprar produtos brasileiros, porque ficaram mais baratos. A China, por exemplo, é uma grande compradora de soja, milho, minério de ferro e carnes brasileiras”, completou.
Apesar do crescimento das exportações ser bastante positivo para a balança comercial, tem se tornado mais um desafio para a inflação, considerando o desabastecimento do mercado brasileiro.
Em outras palavras, quanto mais o Brasil exporta, menor é a oferta de produtos em território brasileiro. Sendo assim, pela lei da oferta e da procura, os valores tendem a subir.