No Brasil, 30 milhões de brasileiros ganham até um salário mínimo; o que dá pra comprar?

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua referente ao segundo semestre do ano mostrou que 30,2 milhões de trabalhadores brasileiros precisam viver com um salário mínimo. Este é o recorde de pessoas que precisam manter todas as despesas para a subsistência com até R$ 1.100 ao mês.

No Brasil, 30 milhões de brasileiros ganham até um salário mínimo; o que dá pra comprar?
No Brasil, 30 milhões de brasileiros ganham até um salário mínimo; o que dá pra comprar? (Imagem: Ingrácio Advocacia)

Em grande parte, a atual situação pode ser justificada pelos impactos da pandemia da Covid-19, que levou muitas empresas à falência ou quase. A crise sanitária provocou a necessidade de se adequar a um novo mercado de trabalho, onde os empregos estão cada vez mais escassos em determinadas áreas. 

Para o pesquisador do IDados e autor da pesquisa, Bruno Ottoni, “muita gente entra no mercado como conta própria ou informalmente e, essas pessoas tendem a ter um rendimento mais baixo do que aquelas que trabalham com carteira”, alegou. 

Ao analisar a proporção total de empregos formais no Brasil, 34,4% recebem até um salário mínimo. Este é o número mais alto já registrado em toda a história do país desde o ano de 2012.

Para se ter uma noção da amplitude da situação, a quantidade de brasileiros que vivem com renda mínima é superior à população venezuelana. 

O salário mínimo insuficiente para custear os gastos de toda a família acarretam em outros problemas, como a dificuldade para manter despesas básicas como a alimentação, energia elétrica e combustível. A situação também se agrava devido à alta da inflação que está prestes a atingir 10% em um acumulado de 12 meses. 

É justamente esta parcela da população que fica sobrecarregada pelos efeitos econômicos do país. Conforme mencionado, esta série histórica teve início em 2012. Com o passar do tempo, a situação foi apenas se agravando, até atingir 17,6 milhões de pessoas com um salário mínimo no terceiro trimestre de 2020. 

Em entrevista ao G1, o professor titular do Insper, Ricardo Paes Barros, a parcela do PIB que coloca a mão na massa diariamente não é tão simbólica quanto aparenta ser, apesar de estar muito mal distribuída.

Ele alega que a proporção de trabalhadores brasileiros recebendo um salário mínimo que, por consequência é insuficiente para sobreviver, é extremamente alta. 

É importante considerar que a Pnad Contínua também foi capaz de detectar a desigualdade social no Brasil. Por exemplo, dos 30,2 milhões que recebem apenas um salário mínimo, mais da metade, 20 milhões, são negros. Ou seja, 43,1% dos trabalhadores negros recebem até R$ 1.100 por mês. 

Até agora, o cenário mais ameno da série histórica se passou no quarto trimestre de 2015, época em que 34,4% dos trabalhadores recebiam até um salário mínimo. Ottoni reconhece que políticas de acesso aos estudos, por exemplo, foram bastante efetivas para este público, mas não houve progresso. 

“Apesar de o país ter tido ganho de escolaridade da população negra, os avanços não foram expressivos no mercado de trabalho”, ponderou. 

Laura AlvarengaLaura Alvarenga
Laura Alvarenga é graduada em Jornalismo pelo Centro Universitário do Triângulo em Uberlândia - MG. Iniciou a carreira na área de assessoria de comunicação, passou alguns anos trabalhando em pequenos jornais impressos locais e agora se empenha na carreira do jornalismo online através do portal FDR, onde pesquisa e produz conteúdo sobre economia, direitos sociais e finanças.