- PIB de 2021 poderá ser afetado caso a campanha de vacinação não seja acelerada;
- Economistas não apresentam estimativas positivas quanto ao crescimento do PIB;
- Brasil não é o único país que teve o cenário econômico amplamente afetado pela pandemia.
O ritmo lento na vacinação contra a Covid-19 pode ser o fator principal responsável por comprometer a retomada da atividade econômica brasileira. A conclusão faz parte do Relatório de Atividade Fiscal (RAF).
O documento indicou que a campanha de vacinação contra a Covid-19 no Brasil tem capacidade de aplicar cerca de 780 mil doses do imunizante por dia. Um apanhado demonstrou que somente 4,5% da população brasileira recebeu as duas doses de uma das vacinas disponíveis contra a doença.
A lentidão no esquema vacinal ainda será capaz de reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em dois pontos percentuais em 2021. Neste sentido, o economista Bráulio Borges, da consultoria LCA, estimou que, se cerca de 70% da população brasileira fosse vacinada até o mês de agosto, poderia haver um crescimento de 5,5% na economia do país ainda este ano.
Ainda que pareçam amenas, essas previsões são vistas como positivas e otimistas, elevando o índice do PIB entre a faixa de 3% a 3,5%. Do contrário, o Brasil seria prejudicado por não conseguir movimentar um montante aproximado de R$ 150 bilhões.
Por mais que especialistas vejam o crescimento de 3% a 3,5% positivo, isso também significaria que a economia brasileira ficou estagnado durante todo 2021. Tal situação é denominada de “carrego estatístico”, que é quando a base de comparação é baixa.
Essa mesma alta na margem de 3,5% ainda deixaria o PIB no final de 2021 com 1% a menos em comparação com o índice registrado no ano de 2019. Outro ponto afetado seria a economia per capita, a qual ficaria com um resultado negativo, na margem de 2,5% inferior a 2019.
“Esses cálculos são um exercício simplificado que mostra como podemos ter um crescimento econômico se andarmos mais rápido com a vacinação, que hoje parece uma realidade bem distante”, afirmou o economista Bráulio Borges.
Segundo apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia brasileira teve um crescimento de 1,2% no primeiro trimestre de 2021, em comparação com os últimos três meses do ano passado.
Para a economista, Alessandra Ribeiro, o resultado do PIB no primeiro trimestre deste ano, se assemelha aos demais países pelo mundo que também sofreram com o rombo na economia devido à pandemia.
É o caso dos Estados Unidos da América (EUA), que teve uma queda do PIB no ano passado de 3,5%, mas será recompensado por um crescimento de 6,5% em 2021. No entanto, a situação em território brasileiro é um pouco mais contida, tendo em vista as limitações do país relacionadas à falta de estímulos fiscais e monetários.
Ela ainda reforçou que o Brasil teve uma queda no PIB de 4,1% em 2020, mas que a expectativa de crescimento se limita a 4% para 2021.
“Nós temos um crescimento um pouco mais expressivo, especialmente no terceiro e no quarto trimestre, e esse crescimento está muito relacionado à hipótese de vacinação e uma certa volta à normalidade em julho e agosto”, ponderou.
Toda a situação econômica alegada por vários economistas foi evidenciada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O órgão acredita que a previsão do PIB para 2021 será inferior a de demais países emergentes. Como a China e a Argentina, que devem avançar para os percentuais de 8,5% e 6,1%, respectivamente.
Enquanto isso, para 2022, a OCDE atualizou a previsão de PIB de 2,7% para 2,5% no Brasil.
“Se a vacinação acelerar e as pessoas gastarem o dinheiro que pouparam, o crescimento pode ser ainda maior”, reforçou o economista chefe da OCDE, Laurence Boone.
Na oportunidade, a OCDE ainda alertou quanto à disparidade nos padrões de vida em diversas economias, não apenas no Brasil, que atingiram níveis bem diferentes da previsão pré-pandemia. Ao observar o cenário geral, estima-se um crescimento de 4,4% do PIB global, em contrapartida aos 4% previstos no mês de março deste ano.
O índice mencionado será capaz de promover a retomada quase que integral da atividade econômica se assemelhando a níveis anteriores à pandemia.
Por fim, a OCDE concluiu ressaltando que existem muitos pontos positivos diante do aumento da produção industrial, a recuperação do comércio a nível mundial, bem como no aumento do consumo após o isolamento social.