Idosos, gestantes e doentes podem ficar sem vacinação após escassez das doses

Pontos-chave
  • Escassez de doses da vacina contra a Covid-19 pode afetar imunização no Brasil;
  • Produção de vacinas contra a Covid-19 foi suspensa pela falta de matéria-prima;
  • Governo recurso oferta para adquirir doses da vacina da Pfizer.

As imagens de vacinação em idosos nos últimos meses trouxe de volta a esperança dos brasileiros quanto à amenização no cenário da pandemia da Covid-19. No entanto, nas últimas semanas a realidade tem sido outra. 

Idosos, gestantes e doentes podem ficar sem vacinação após escassez das doses
Idosos, gestantes e doentes podem ficar sem vacinação após escassez das doses. (Imagem: Reprodução/Gazeta do Povo)

Infelizmente o Brasil não possui a matéria-prima necessária para a produção das vacinas contra a Covid-19. O Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), como também é conhecido, consiste em um produto importado diretamente da China. 

No entanto, uma divergência no posicionamento político entre ambos os governos, sobretudo após ataques recentes do presidente da República, Jair Bolsonaro, contra o Governo chinês tem dificultado a aquisição do IFA. Isso porque, o país se recusa a exportar o insumo acordado em contrato. 

A previsão é para que o Brasil recebesse um lote com cerca de 10 mil litros de IFA até o fim desta semana, o que não irá acontecer. A falta do insumo resultou na suspensão da fabricação da Coronavac produzida pelo Instituto Butantan, bem como da vacina de Oxford produzida pelo Instituto Fiocruz. 

A escassez das doses do imunizante irá afetar o calendário de vacinação contra a Covid-19 no Brasil. Atualmente, o Executivo Federal em parceria com os governos Estadual e Municipal têm se mobilizado para concluir a vacinação de idosos. 

Nas últimas semanas, o esquema vacinal foi ampliado no sentido de incluir as gestantes, puérperas e pessoas com comorbidades dentro de determinada faixa etária. Os detalhes sobre a vacinação dos novos grupos são determinados por cada administração estadual ou municipal de acordo com o Plano Nacional de Imunização (PNI).

Prioridades na vacinação

Atualmente podem se vacinar idosos com idade igual ou superior a 60 anos, grávidas, puérperas, pessoas com comorbidades com idade entre 18 a 59 anos, bem como aquelas inscritas no Benefício de Prestação Continuada (BPC). Veja a seguir a lista de comorbidades incluídas no PNI:

  • Doenças causadoras de imunossupressão: lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Cushing, espondilite anquilosante e outras;
  • Doenças cardiovasculares: arritmia cardíaca, cardiopatia hipertensiva, insuficiência cardíaca, cardiopatia congênita;
  • Doenças pulmonares: fibrose cística, hipertensão pulmonar, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), enfisema, asma;
  • Síndromes coronarianas: angina instável, infarto agudo do miocárdio;
  • Valvulopatias: aórtica, mitral, pulmonar e tricúspide;
  • Miocardiopatias e pericardiopatias: doenças que atingem o miocárdio e o pericárdio;
  • Doença da aorta, dos grandes vasos e fístulas arteriovenosas;
  • Próteses valvares e dispositivos cardíacos implantados;
  • Diabetes mellitus;
  • Hipertensão arterial;
  • Doenças cerebrovasculares: acidente vascular cerebral;
  • Doença renal crônica;
  • Transplantados;
  • HIV;
  • Doenças reumáticas;
  • Câncer;
  • Anemia falciforme e talassemia maior;
  • Cirrose hepática;
  • Obesidade mórbida.

Porém, devido à falta de matéria-prima necessária para a fabricação das doses, o ritmo de vacinação contra a Covid-19 no Brasil cairá pela metade e se manterá lento até meados de setembro deste ano. A lentidão no esquema vacinal contra a doença já vem sendo identificado e monitorado nos últimos 14 dias. 

A campanha de vacinação contra a Covid-19 no Brasil foi ultrapassada pela Alemanha, Reino Unido, França e Itália no que se refere à quantidade de doses aplicadas diariamente.

Mesmo diante de uma diversidade de problemas, a média diária de vacinação foi de 995 mil doses aplicadas até 29 de abril.

O número caiu para 429 mil conforme apurado na última quarta-feira, 12, através dos dados disponibilizados pelo Our World in Data, programa de monitoramento elaborado pela Universidade de Oxford.

Observou-se que o atraso na produção de vacinas não é o único problema enfrentado, a falha também está presente na demora para concluir a aplicação da segunda dose do imunizante. 

Diante da redução na margem de 57% em apenas duas semanas, o Brasil foi do quarto para o oitavo lugar no ranking de países que mais tem aplicado doses de vacina contra a Covid-19 por dia. Até o momento, a China está em primeiro lugar com uma média de 9,23 milhões de doses. 

Outro ponto que também deve ser mencionado consiste nos debates da CPI da Covid. O último tema em pauta está relacionado a uma fala do gerente-geral da farmacêutica Pfizer, Carlos Murillo, ao declarar que Bolsonaro rejeitou três ofertas para a aquisição de 70 milhões de doses da vacina Pfizer/BioNTech.

Idosos, gestantes e doentes podem ficar sem vacinação após escassez das doses
Idosos, gestantes e doentes podem ficar sem vacinação após escassez das doses. (Imagem: Justin Tallis/AFP)

Conforme mencionado pelo representante da indústria, ainda no mês de dezembro de 2020, o Brasil poderia ter feito a aquisição das primeiras doses da vacina contra a Covid-19.

A validade da primeira oferta expirou no dia 14 de agosto. Nos dias 18 e 26 de agosto, a Pfizer fez as outras duas ofertas referentes à venda do imunizante, as quais também foram rejeitadas pelo Governo Federal.

Caso o governo de Bolsonaro tivesse aceitado as ofertas, a entrega das doses da vacina teria acontecido no ano passado. Agora, diante de todas as dificuldades que o país tem enfrentado quanto à vacinação da Covid-19, há o entendimento de que essas mais de 70 milhões de doses da Pfizer teriam auxiliado no esquema vacinal do país.

Laura AlvarengaLaura Alvarenga
Laura Alvarenga é graduada em Jornalismo pelo Centro Universitário do Triângulo em Uberlândia - MG. Iniciou a carreira na área de assessoria de comunicação, passou alguns anos trabalhando em pequenos jornais impressos locais e agora se empenha na carreira do jornalismo online através do portal FDR, onde pesquisa e produz conteúdo sobre economia, direitos sociais e finanças.