Uma pesquisa aponta que mais de 125 milhões de brasileiros lidam com a insegurança alimentar devido aos impactos da pandemia da Covid-19. Este montante representa quase três quintos das residências brasileiras, ou seis em cada dez casas, representado pelo percentual de 59,4% no último quadrimestre de 2020.
Os dados apresentados provêm da pesquisa “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil”, realizada pelo Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça.
Que incluem Poder, Política e Desigualdades Alimentares na Bioeconomia, em parceria com a Universidade Livre de Berlim na Alemanha, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade de Brasília (UNB).
O levantamento divulgado nesta terça-feira, 13, foi realizado entre novembro e dezembro de 2020, entrevistando cerca de dois mil brasileiros.
Durante o levantamento que priorizou o parecer de maiores de idade com base na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), foram feitas as seguintes perguntas: “Nos últimos três meses, os moradores tiveram preocupação que os alimentos acabassem antes de poderem comprar ou receber mais comida?”.
Caso a resposta fosse “sim”, já era considerado a insegurança alimentar em um domicílio, tendo em vista a incerteza quanto ao acesso à comida no futuro ou a redução na quantidade e qualidade dos alimentos ingeridos.
Levando estes parâmetros em conta, foi possível identificar que 59,4% dos domicílios se encontravam nesta condição no ano passado.
Deste total, 31,7% declarou uma leve insegurança, enquanto 12,7% foi moderada e 15% grave, ou seja, este último percentual realmente enfrentou a falta de comida na mesa.
De acordo com a coordenadora do estudo, a professora de sociologia, Renata Motta, “a preocupação de que o alimento vai acabar e ter que tomar decisões para que isso não aconteça é ter psicologicamente a fome presente, mesmo que ainda não tenha se materializado”, explicou.
Com base em cada região, o cenário foi ainda pior no Nordeste e Norte. Neste último, 67,7% dos domicílios apresentaram insegurança alimentar.
Em contrapartida, a região Sul foi a que teve a melhor condição, embora os índices tenham apontado que mais da metade dos domicílios, ou seja, 51,6% sofriam com a insegurança alimentar.
No que compete aos parâmetros no Centro-Oeste, a pesquisa apontou que 54,6% da população enfrentou esse problema. Enquanto no sudeste, o percentual de insegurança alimentar foi de 53,5%.
Observando as dificuldades e meios de sustento das famílias entrevistadas, foi possível perceber que o grupo que mais sofre com a insegurança alimentar são os beneficiários do Bolsa Família, diante do percentual de 88,2%.
Deste total, 35% realmente passam fome, enquanto os outros 23,5% precisam equilibrar o consumo para se enquadrar em um nível moderado de insegurança alimentar.
Além do mais, os índices se mostraram ainda mais graves em moradias que possuíam na composição, crianças de até 4 anos de idade. Esta condição superou a média nacional de 29,3% com domicílios que conseguem manter uma alimentação de qualidade e quantidade ideais.
Por outro lado, o percentual expressivo de 70,6% enfrentam algum tipo de insegurança alimentar, enquanto 20,5% realmente passam fome.
“Faz ao menos quatro anos que vemos o aumento da insegurança alimentar. Isso significa que uma criança pequena passou a primeira infância inteira em situação de insegurança alimentar moderada ou grave”, ponderou a pesquisadora.
Todos estes dados são capazes de comprovar o resultado da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada entre 2017 e 2018 divulgada em setembro de 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo apontou pela primeira vez na história do país, uma queda drástica nos parâmetros de segurança alimentar.
Porém, o quadro se agravou ainda mais com a piora no cenário econômico brasileiro, especialmente após a chegada da pandemia da Covid-19 no país.