Reforma da assistência rural de SP: O que o texto propõe? E porquê isso preocupa os agricultores?

Pontos-chave
  • Governo de São Paulo propõe reforma que deverá afetar agricultores;
  • Pequenos produtores deverão se adaptar a processos de inovação;
  • Servidores do CATI poderão ser afastados.

Governo de São Paulo assusta os trabalhadores rurais mediante a implementação de uma reforma no modelo de assistência rural. Desde o início do ano a gestão estadual vem trabalhando para modificar os meios de serviço dos ruralistas de SP. Entre as medidas pontuadas no texto do projeto, sugere-se a digitalização dos serviços feitos pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI).   

Reforma da assistência rural de SP: O que o texto propõem? E porquê isso preocupa os agricultores? (Imagem: Google)
Reforma da assistência rural de SP: O que o texto propõe? E porquê isso preocupa os agricultores? (Imagem: Google)

Apesar de parecer positiva e inovadora, a reforma na assistência técnica rural de São Paulo tem sido vista negativamente por grande parte dos trabalhadores rurais, veterinários e pesquisadores. Muitos afirmam que as propostas do projeto deverão resultar em demissões e atrasos no funcionamento de seus serviços.  

Há um medo de que essa reestruturação dê fim as visitais presenciais dos profissionais qualificados para acompanhar os ruralistas no desenvolvimento de seus cultivos.

E também não se descarta as chances da assistência rural provocar demissão, caso a digitalização do CATI seja implantada. 

Substituição e digitalização da CATI 

A primeira proposta do projeto é substituir as 645 casas de agricultura gerenciadas pela CATI. Os espaços tem como finalidade receber os pequenos agricultores para dar suporte sobre processos burocráticos e administrativos para garantir o desenvolvimento rural.  

Para suprir essa demanda o governo avalia criar uma central de atendimento ao agricultor. Suas normas de funcionamento e quais serviços ofertados ainda não foram finalizados, mas segundo o secretário de Agricultura, Gustavo Junqueira, terá um resultado positivo para os cidadãos.  

“Na verdade, é uma modernização. A ideia é trazer o serviço público ao mesmo estágio de desenvolvimento do agronegócio. Principalmente em São Paulo, onde o agronegócio se desenvolveu muito.” 

Reforma da assistência rural de SP: O que o texto propõem? E porquê isso preocupa os agricultores? (Imagem: Google)
Reforma da assistência rural de SP: O que o texto propõem? E porquê isso preocupa os agricultores? (Imagem: Google)

No entanto, quem está do outro lado não consegue enxergar as mudanças de uma forma tão positiva. Wilson Diego, agricultor, explica que para os mais velhos a tecnologia poderá ser uma grande dificuldade.  

“Olha, eu sou o básico do básico mesmo. Facebook, WhatsApp, bem complicado, eu sou bem devagar. Isso que eu sou um dos mais novos em casa. Os mais velhos sem chance. Pai, mãe, sem a mínima chance. Atender um celular é complicado”, diz. 

Já o veterinário Júlio Silva acredita que a inovação é necessária, mas defende que seja implementada de uma forma educativa e que haja um processo de adaptação garantindo que os agricultores passem a entender como funcionarão as plataformas.  

“É lógico que tem que ter uma evolução (…) Mas o que o produtor sabe é produzir. Essa evolução tecnológica tem que ser gradativa”, diz. 

Em resposta, o governo garante que irá aplicar oficinas de inclusão e que estas deverão ser apresentadas em breve.  

“Não tenho nem dúvida (de que haverá visitas presenciais). A relação entre as pessoas é fundamental, apesar da gente conseguir fazer muita coisa de maneira remota”, ressaltou Junqueira. 

Futuro das Casas de Agricultura é incerto  

Já no que diz respeito as Casas da Agricultura da CATI, os agricultores temem que com as portas fechadas eles passem a ficar sem assistência pública. Eles explicam que as unidades são responsáveis por garantir o desenvolvimento da região e que é por meio delas que se elabora uma rede de apoio entre os pequenos produtores. 

“A CATI foi muito importante para o desenvolvimento de semente no nosso Vale. Nossa produtividade dobrou em 40 anos de pesquisaMas não é só pesquisa. A extensão rural também é importante. (…) O produtor procura as casas de lavouras e tem acesso a novas técnicas. Isso é muito importante, principalmente para quem está começando. (…) A CATI tem um corpo de técnicos muito experientes”, explicou o agricultor Ademar Ligabo. 

Assistência técnica deverá ser reduzida 

Por fim, há ainda uma insegurança no que diz respeito a redução da assistência técnica que poderá incentivar na reestruturação da equipe pública gerando assim novas demissões. Os processos de digitalização deverão substituir os profissionais responsáveis por esses serviços burocráticos atualmente.  

Porém, o secretário de Agricultura de SP afirma que em sua agenda não há uma etapa de mudança no que diz respeito ao quadro de servidores.  

“Esse programa não é um programa de redução do tamanho do estado. É um programa de adequação do estado à estrutura que nós temos. Ou seja, hoje nós temos 3.300 servidores e a estrutura montada na secretaria é uma estrutura de 1993. É uma estrutura montada para dez mil funcionários, em um momento completamente diferente”, finalizou o gestor. 

Eduarda Andrade
Mestre em ciências da linguagem pela Universidade Católica de Pernambuco, formada em Jornalismo na mesma instituição. Atualmente se divide entre a edição do Portal FDR e a sala de aula. - Como jornalista, trabalha com foco na produção e edição de notícias relacionadas às políticas públicas sociais. Começou no FDR há três anos, ainda durante a graduação, no papel de redatora. Com o passar dos anos, foi se qualificando de modo que chegasse à edição. Atualmente é também responsável pela produção de entrevistas exclusivas que objetivam esclarecer dúvidas sobre direitos e benefícios do povo brasileiro. - Além do FDR, já trabalhou como coordenadora em assessoria de comunicação e também como assessora. Na sua cartela de clientes estavam marcas como o Grupo Pão de Açúcar, Assaí, Heineken, Colégio Motivo, shoppings da Região Metropolitana do Recife, entre outros. Possuí experiência em assessoria pública, sendo estagiária da Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco durante um ano. Foi repórter do jornal Diário de Pernambuco e passou por demais estágios trabalhando com redes sociais, cobertura de eventos e mais. - Na universidade, desenvolve pesquisas conectadas às temáticas sociais. No mestrado, trabalhou com a Análise Crítica do Discurso observando o funcionamento do parque urbano tecnológico Porto Digital enquanto uma política pública social no Bairro do Recife (PE). Atualmente compõe o corpo docente da Faculdade Santa Helena e dedica-se aos estudos da ACD juntamente com o grupo Center Of Discourse, fundado pelo professor Teun Van Dijk.