- Governo de São Paulo propõe reforma que deverá afetar agricultores;
- Pequenos produtores deverão se adaptar a processos de inovação;
- Servidores do CATI poderão ser afastados.
Governo de São Paulo assusta os trabalhadores rurais mediante a implementação de uma reforma no modelo de assistência rural. Desde o início do ano a gestão estadual vem trabalhando para modificar os meios de serviço dos ruralistas de SP. Entre as medidas pontuadas no texto do projeto, sugere-se a digitalização dos serviços feitos pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI).
Apesar de parecer positiva e inovadora, a reforma na assistência técnica rural de São Paulo tem sido vista negativamente por grande parte dos trabalhadores rurais, veterinários e pesquisadores. Muitos afirmam que as propostas do projeto deverão resultar em demissões e atrasos no funcionamento de seus serviços.
Há um medo de que essa reestruturação dê fim as visitais presenciais dos profissionais qualificados para acompanhar os ruralistas no desenvolvimento de seus cultivos.
E também não se descarta as chances da assistência rural provocar demissão, caso a digitalização do CATI seja implantada.
Substituição e digitalização da CATI
A primeira proposta do projeto é substituir as 645 casas de agricultura gerenciadas pela CATI. Os espaços tem como finalidade receber os pequenos agricultores para dar suporte sobre processos burocráticos e administrativos para garantir o desenvolvimento rural.
Para suprir essa demanda o governo avalia criar uma central de atendimento ao agricultor. Suas normas de funcionamento e quais serviços ofertados ainda não foram finalizados, mas segundo o secretário de Agricultura, Gustavo Junqueira, terá um resultado positivo para os cidadãos.
“Na verdade, é uma modernização. A ideia é trazer o serviço público ao mesmo estágio de desenvolvimento do agronegócio. Principalmente em São Paulo, onde o agronegócio se desenvolveu muito.”
No entanto, quem está do outro lado não consegue enxergar as mudanças de uma forma tão positiva. Wilson Diego, agricultor, explica que para os mais velhos a tecnologia poderá ser uma grande dificuldade.
“Olha, eu sou o básico do básico mesmo. Facebook, WhatsApp, bem complicado, eu sou bem devagar. Isso que eu sou um dos mais novos em casa. Os mais velhos sem chance. Pai, mãe, sem a mínima chance. Atender um celular é complicado”, diz.
Já o veterinário Júlio Silva acredita que a inovação é necessária, mas defende que seja implementada de uma forma educativa e que haja um processo de adaptação garantindo que os agricultores passem a entender como funcionarão as plataformas.
“É lógico que tem que ter uma evolução (…) Mas o que o produtor sabe é produzir. Essa evolução tecnológica tem que ser gradativa”, diz.
Em resposta, o governo garante que irá aplicar oficinas de inclusão e que estas deverão ser apresentadas em breve.
“Não tenho nem dúvida (de que haverá visitas presenciais). A relação entre as pessoas é fundamental, apesar da gente conseguir fazer muita coisa de maneira remota”, ressaltou Junqueira.
Futuro das Casas de Agricultura é incerto
Já no que diz respeito as Casas da Agricultura da CATI, os agricultores temem que com as portas fechadas eles passem a ficar sem assistência pública. Eles explicam que as unidades são responsáveis por garantir o desenvolvimento da região e que é por meio delas que se elabora uma rede de apoio entre os pequenos produtores.
“A CATI foi muito importante para o desenvolvimento de semente no nosso Vale. Nossa produtividade dobrou em 40 anos de pesquisa. Mas não é só pesquisa. A extensão rural também é importante. (…) O produtor procura as casas de lavouras e tem acesso a novas técnicas. Isso é muito importante, principalmente para quem está começando. (…) A CATI tem um corpo de técnicos muito experientes”, explicou o agricultor Ademar Ligabo.
Assistência técnica deverá ser reduzida
Por fim, há ainda uma insegurança no que diz respeito a redução da assistência técnica que poderá incentivar na reestruturação da equipe pública gerando assim novas demissões. Os processos de digitalização deverão substituir os profissionais responsáveis por esses serviços burocráticos atualmente.
Porém, o secretário de Agricultura de SP afirma que em sua agenda não há uma etapa de mudança no que diz respeito ao quadro de servidores.
“Esse programa não é um programa de redução do tamanho do estado. É um programa de adequação do estado à estrutura que nós temos. Ou seja, hoje nós temos 3.300 servidores e a estrutura montada na secretaria é uma estrutura de 1993. É uma estrutura montada para dez mil funcionários, em um momento completamente diferente”, finalizou o gestor.