- Sem opção de cumprir quarentena, trabalhadores informais são afetados pela Covid-19;
- Florianópolis e Boa Vista são reflexo da pandemia no Brasil;
- Maior apoio aos informais poderia ter reduzido mortes no país, diz estudo.
Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o Instituto Francês de Pesquisa e Desenvolvimento (IRD) mostra que cidades com maior quantidade de trabalhadores informais foram as mais afetadas pela pandemia do novo coronavírus no Brasil.
A pesquisa trabalhou na análise de dados socioeconômicos de todos os 5.570 municípios brasileiros.
Indicadores como pobreza, cor da pele, votos no primeiro turno da eleição presidencial e o efeito da informalidade no trabalho foram alguns indicadores isolados para o estudo. O último, porém, foi um dos que mais chamou a atenção dos pesquisadores.
“Os municípios onde os trabalhadores informais são mais numerosos também são os mais afetados, para além do efeito amplificador das taxas de pobreza mais elevadas. Podemos supor que a falta de seguridade social e a necessidade de se deslocar no exercício de seu trabalho contribuem para essa especificidade daqueles que estão na informalidade”, explica o texto sobre o caso dos que se quer tiveram a opção de cumprir a quarentena.
Casos em Santa Catarina e Roraima assustam
A pesquisa dá luz ao que acontece em Florianópolis, no estado de Santa Catarina. Na cidade, 23% dos trabalhadores são informais.
Com pouco mais de meio milhão de habitantes, 4.697 casos da doença foram registrados até o dia 11 de agosto deste ano. Um registro de 38 contaminados e 15 mortes para cada 100 mil habitantes.
Boa Vista, em Roraima, também chamou a atenção, mesmo sendo menos populosa. São cerca de 399,2 mil habitantes. Por outro lado, tem quase o dobro de informais que a capital de Santa Catarina: 41% dos trabalhadores.
A mesma data, agora em Boa Vista, marcou 27.334 casos, sendo 6.847 doentes e 108 mortes por 100 mil habitantes.
Diante dos números, a pesquisa mostra o mesmo tipo de correlação entre trabalho informal e avanço do coronavírus em outros municípios, como Curitiba.
Com 1,9 milhão de habitantes, sendo 25% trabalhadores informais, Curitiba registrou 20.629 da Covid-19 até o dia 11 de agosto, sendo 687 mortes. Isto é equivalente a 35 pessoas a cada grupo de 100 mil habitantes.
Fortaleza não seguiu um caminho muito diferente. Com 2,7 milhões de habitantes, sendo 36% trabalhadores informais, no mesmo dia registrou 44.009 casos, incluindo 3.742 mortes, o equivalente a 140 por 100 mil habitantes.
“Nossa conclusão é que o trabalhador informal, além de ter uma renda menor, fica mais exposto aos riscos da Covid-19, pois a natureza da atividade exige contato com o público, locomoção constante e, não raro, convívio com áreas que têm condições sanitárias piores”, disse o pesquisador François Roubaud, um dos autores do estudo.
Ainda de acordo com os pesquisadores, é importante ressaltar que o estudo foi feito apenas com dados voltados para a Covid-19.
Porém, se fossem realizados sob a perspectiva de demais doenças infecciosas e problemas de saúde em geral, o resultado não seria muito diferente, uma vez que também estão associadas à pobreza e informalidade.
Em suma, acredita-se que o número de mortes poderia ser menor que o apresentado por diversos municípios se os trabalhadores informais tivessem recebido maior apoio governamental e não fosse uma face esquecida da pandemia.
Eles têm potencial, inclusive, de continuar sendo afetados pela doença, principalmente nos municípios que enfrentam uma “segunda onda” de pandemia por continuarem sendo obrigados a estar nas ruas para garantir o básico, ao invés de conseguir cumprir o isolamento que as autoridades indicam.
Dados da Covid-10 no Brasil
Segundo levantamento divulgado na terça-feira (13), o Brasil possui 5.113.628 casos confirmados do novo coronavírus, sendo 4.526.975 recuperados e 435.655 em acompanhamento, além dos 150.998 óbitos acumulados.
Em ordem crescente, os estados com maior número de casos são: Sul, Centro-Oeste, Norte, Nordeste e Sudeste. Este último acumula 1.788.337 casos e 68.475 óbitos.