O Brasil vive uma situação inédita, uma vez que, há energia sobrando e o sistema elétrico não consegue processar tudo.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a geração, principalmente a solar, já supera a capacidade de escoamento e controle da rede.
Em uma nota técnica divulgada em setembro de 2025, o órgão confirmou que o país enfrenta excedente estrutural de energia em alguns períodos do dia.
Isso significa que, mesmo com potencial de sobra, parte da eletricidade precisa de uma limitação e até corte em alguns casos.
O documento, intitulado “Critérios para Gestão de Excedentes de Geração” (NT-ONS DOP 0022/2025), cria regras formais para restringir a produção em momentos de sobreoferta — o que afeta diretamente quem investiu em energia solar ou eólica.

Quando economizar se torna um problema
A limitação não é apenas técnica, porém, também econômica. Isso porque, o avanço da geração distribuída, painéis solares em residências e pequenas empresas, transformou muito consumidor em produtor de energia.
Porém, essa descentralização trouxe desafios ao sistema, que ainda depende de uma infraestrutura pensada para o fluxo oposto.
Nos horários de pico de sol, a rede nacional recebe um volume elevado de energia. Sem capacidade suficiente de armazenamento ou transmissão, o ONS precisa “cortar geração” para manter o equilíbrio do sistema.
Na prática, isso significa que milhares de microgeradores podem ver sua produção reduzida ou até interrompida — mesmo em dias de alta incidência solar.
O lado do governo e do setor elétrico
O ONS e o Ministério de Minas e Energia argumentam que a medida é necessária para garantir segurança e estabilidade na operação do sistema interligado.
A preocupação maior está nos riscos de sobretensão e apagões locais.
Em paralelo, o governo prepara um plano de controle da geração distribuída, que permitirá cortes automáticos em momentos críticos.
O modelo, inclusive, se inspira em sistemas europeus que já enfrentam dilemas semelhantes, especialmente com o crescimento das fontes renováveis intermitentes.
Mesmo assim, especialistas afirmam que o país poderia investir mais em armazenamento, como baterias e hidrogênio verde, em vez de penalizar quem busca alternativas sustentáveis e econômicas.
Energia de sobra, inovação de menos
Enquanto o Brasil desponta como uma das potências em energia limpa, o país ainda não conseguiu transformar esse potencial em vantagem real para o consumidor.
O paradoxo é claro: temos mais energia do que precisamos, mas pagamos caro por ela.
A limitação imposta aos produtores solares representa um impasse entre a modernização tecnológica e o modelo regulatório ultrapassado.
Se não houver adaptação rápida, o risco é o mesmo apontado pelo ONS: energia desperdiçada, investimentos desestimulados e transição verde desacelerada.