Empresa teme perder 20% dos clientes após bloqueio do Bolsa Família

SALESóPOLIS, SP — O recente bloqueio que impede beneficiários do Bolsa Família de acessarem sites de apostas online — as chamadas “bets” — entrou em vigor na segunda-feira, 1º de dezembro de 2025.

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Empresa teme perder 20% dos clientes após bloqueio do Bolsa Família
(Foto: Jeane de Oliveira/FDR)

A medida também atinge beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC), conforme determinação do Ministério da Fazenda, em cumprimento a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e recomendações do Tribunal de Contas da União (TCU).

A expectativa é de que pelo menos 20% dos usuários das bets tenham suas contas excluídas porque recebem o Bolsa Família. 

🔒 O que mudou para quem recebe Bolsa Família

  • As operadoras de apostas regulamentadas devem consultar uma base oficial (via CPF) para barrar o registro de novos beneficiários do Bolsa Família ou BPC.
  • Para usuários já cadastrados, o bloqueio se aplica no primeiro login do dia ou em checagens periódicas. As contas identificadas serão encerradas em até 72 horas, com devolução de saldos remanescentes. 

📉 Impactos esperados pelo setor

Empresas de apostas estimam que a mudança reduzirá cerca de 20% da base de clientes ativos. Isso reflete a parcela significativa de usuários que utilizavam os benefícios sociais para apostar. 

Segundo dados do TCU, em janeiro de 2025, cerca de 4,4 milhões de famílias beneficiárias (~21,8% do total) transferiram R$ 3,7 bilhões para casas de apostas — o que representava 27% de todo o repasse do programa naquele mês. 

Isso motivou as autoridades a considerar o uso indevido de recursos públicos, com riscos de fraude, endividamento excessivo e uso irregular de contas.

🏦 Reação das empresas de apostas

Com a nova regra, as casas de apostas reguladas precisarão:

  • Ajustar suas estratégias de cadastro e verificação de usuários.
  • Rever suas campanhas de marketing, promoções e segmentação de público — já que uma parcela relevante dos apostadores deixa de estar elegível.
  • Adequar processos internos de compliance e monitoramento constante dos CPFs cadastrados, com checagens periódicas exigidas pela norma. 

Consequências sociais e riscos alternativos

Embora a medida vise proteger famílias de baixa renda de apostas arriscadas e do endividamento, há preocupação de que o bloqueio possa empurrar alguns usuários para o mercado ilegal — sites que não têm controle, regulamentação ou mecanismos de retorno de saldo. 

Além disso, ao restringir o acesso legal, a norma pode dificultar a fiscalização, já que apostas informais não têm qualquer transparência — o que contraria os objetivos de prevenção de fraude e lavagem de dinheiro apontados pelo TCU e pelo STF.

Lila CunhaLila Cunha
Formada em jornalismo pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) desde 2018. Já atuou em jornal impresso. Trabalha com apuração de hard news desde 2019, cobrindo o universo econômico em escala nacional. Especialista na produção de matérias sobre direitos e benefícios sociais. Suas redes sociais são: @liilacunhaa, e-mail: lilacunha.fdr@gmail.com