Apesar dos esforços do Governo, o desemprego no Brasil ainda é uma realidade que atinge uma parcela enorme da população que está em busca de trabalho. São 9,6 milhões de brasileiros, segundo os dados mais recentes divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
Com poucas vagas sendo disponibilizadas no mercado, as seleções de emprego ficam cada vez mais criteriosas, exigindo cada vez mais dos candidatos e dificultando que a balança entre o que é exigido e o que é oferecido apresente resultados equivalentes.
Para muitos, não é apenas a falta de capacitação ou de experiência que fecha as portas das oportunidades.
A idade, seja ela considerada abaixo ou acima das expectativas do empregador, bem como o sexo, a localidade da residência, número de filhos, cor e até a aparência, fazem com que algumas pessoas tenham muito mais dificuldades para encontrar uma colocação no mercado de trabalho.
O advogado trabalhista Maurício Souza, aponta que, segundo a Lei 9.029/1995, toda e qualquer discriminação por:
- Sexo,
- Origem,
- Raça,
- Cor,
- Estado civil,
- Situação familiar,
- Deficiência,
- Idade,
- E outras, incluindo fatores estéticos.
E outros fatores que cheguem a causar qualquer tipo de diferenciação no tratamento por parte dos contratantes ou recrutadores, constitui crime, com pena de detenção de um a dois anos e multa, podendo atingir a pessoa física empregadora, o representante legal do empregador, ou o dirigente, de órgãos públicos e entidades das administrações públicas direta, indireta e fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Em empregos oferecidos pelo Governo, como em empresas como os Correios, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa, e órgãos públicos, de modo geral, a seleção é feita de forma isonômica, através de concursos públicos que levam em consideração as diferentes condições entre as pessoas, utilizando, por exemplo, o sistema de cotas para deficientes e pessoas pretas, além de creditar pontuação diferenciada para mães, por quantidade de filhos.
Quando se trata de empresas privadas, muitas vezes não é possível verificar se há, de fato, essa isonomia.
Conforme as mídias sociais vão se consolidando e se tornando meios de comunicação poderosíssimos, algumas empresas vão se moldando para transmitir uma imagem de compromisso com a igualdade de oportunidades e respeito às diferenças.
O Magazine Luiza, por exemplo, se tornou uma referência no combate ao racismo velado no mercado de trabalho, quando, em 2020, lançou um programa de trainee apenas para pessoas pretas, a fim de fazer com que elas sejam preparadas para ocupar cargos de liderança em quantidade equivalente ao número de pessoas brancas, já posicionadas dentro dessas vagas.
Hoje, muitas outras empresas fazem questão de deixar explícito que desejam ter pessoas plurais dentro de suas estruturas.
A Pagseguro, empresa responsável pela maquininha Pagbank e outros serviços financeiros, serve como exemplo.
Em seu site, é possível encontrar a seguinte informação: “Nossas oportunidades estão abertas para todas as pessoas sem distinção de gênero, orientação sexual, etnia, cultura, origem, religião, deficiência, idade ou qualquer outro fator.
Para nós, o importante é você gostar de desafios, trabalhar bem em equipe, vivenciar nossa cultura e nossa missão de promover a inclusão financeira e revolucionar o mercado de meios de pagamento e serviços bancários no Brasil.”
Uma declaração de posicionamento como essa é confortante para quem está entregando um currículo, agendando uma entrevista ou dando início a um período de experiência, mas é importante dizer que nem tudo são flores.
Em inúmeras empresas, inclusive entre as que fazem campanhas contra discriminação na internet, a discriminação ocorre de forma velada, como, por exemplo, nos casos em que é solicitado que os currículos sejam entregues com fotos.
A aparência do candidato não possui nenhuma relação com suas habilidades, competências, conhecimentos técnicos ou capacidade de aprendizado, portanto, não há motivo que justifique tal exigência.
A pessoa que está em busca de uma oportunidade não se recusará a atender a solicitação da empresa, ainda que compreenda que sua aparência, cor ou etnia possam ser, erroneamente, levados em consideração na hora da seleção.
O momento da entrevista também pode não ser dos mais fáceis, e mesmo os candidatos que mergulham em livros sobre desenvolvimento pessoal para conseguir demonstrar todo seu potencial diante do recrutador sabem que podem acabar sendo eliminados por apresentarem sobrepeso, tatuagens, piercings, brincos (em especial no caso dos homens) ou cabelos coloridos ou crespos, por exemplo. Isso sem adentrar na questão do racismo e da LGBTQIA+fobia.
Esses critérios, por razões facilmente imagináveis, nunca são, de fato, expostos para o candidato, o que causa uma barreira para que empresas e empregadores que exibam comportamento discriminatório recebam as devidas punições.
No fim, muita gente acaba se rendendo às pressões do mercado.
Com uma parcela considerável da população brasileira estando abaixo da linha da pobreza, não são muitas as pessoas que podem recusar vagas em empresas preconceituosas, racistas, homofóbicas, gordofóbicas ou discriminatórias.
A adequação acaba sendo o caminho escolhido por muitas pessoas.
Não são poucas as mulheres pretas que acabam alisando seus cabelos para ter mais chances em seleções.
Esconder tatuagens com roupas mais longas ou até com maquiagem, também não é incomum.
Quanto maior a necessidade de obter uma oportunidade, mais propenso está o candidato a buscar a padronização da estética com o que é visto como desejável pelos mais conservadores.
Há, inclusive, quem busque uma perfeição estética quase inatingível para diminuir as barreiras durante uma entrevista, por exemplo.
Entre as mulheres, uma das principais pressões estéticas é a questão do peso. Muitas começam dietas verdadeiramente agressivas para perder alguns quilos entre o intervalo do agendamento da entrevista e a data fatídica.
Sobre isso, o portal Todo Dia Mais Leve faz um alerta: “A saúde é o primeiro aspecto que precisa ser considerado em qualquer processo de mudança corporal.
Pular refeições, fazer cortes drásticos na quantidade de alimentos consumidos ou utilizar medicamentos sem prescrição médica, podem ser as piores escolhas e fazer, inclusive, que a candidata não tenha saúde física e mental o suficiente para exercer suas atividades no trabalho, caso seja contratada”.
Por fim, para driblar todas essas dificuldades e conseguir encontrar uma oportunidade justa no mercado de trabalho, é importante que o candidato se prepare de forma correta, podendo e devendo ter atenção ao seu asseio pessoal, higiene e comportamento, mas não se tornando refém de exigências preconceituosas e discriminatórias.
Para chamar atenção com seu currículo:
Mesmo quem não possui nenhuma experiência no mercado formal pode chamar a atenção com um currículo bem elaborado. O ideal é focar em outras áreas que possam ser relevantes para a vaga que está se candidatando:
- Objetivo profissional claro: Iniciar o currículo com um objetivo profissional claro e bem redigido, destacando metas e ambições em relação à vaga.
- Formação acadêmica: Destacar conquistas educacionais, como notas altas, projetos relevantes, atividades extracurriculares ou prêmios acadêmicos.
- Trabalhos informais: Trabalhos como freelancer ou em vagas temporárias mostram disposição para aproveitar oportunidades e atuar de forma dinâmica.
- Habilidades e competências: É de valor que o candidato foque em suas habilidades transferíveis, como habilidades de comunicação, trabalho em equipe, liderança, resolução de problemas e criatividade, por exemplo.
- Cursos e certificações: Mencionar todas as experiências educativas, mesmo as que não houverem emitido certificado, desde que se possa comprovar a capacidade de executar o que foi aprendido.
- Referências pessoais: Na falta de referências profissionais, o candidato deve incluir referências pessoais, como professores, mentores ou outras pessoas que possam oferecer algum testemunho sobre suas habilidades e caráter.
- Estágios ou programas de aprendizagem: Destacar programas de estágio, workshops ou outras atividades de aprendizagem relacionadas à área de interesse pode ser visto com bons olhos pelo recrutador.
- Carta de apresentação: Incluir uma carta de apresentação personalizada, destacando entusiasmo pela oportunidade e sua competência para aprender e crescer na carreira pode fazer com que o currículo seja avaliado de forma mais humana e ampliar as chances de que seja feito um convite para entrevista.
Mesmo sem experiência formal, atitude, paixão pela área e habilidades transferíveis podem ser impressionantes para os empregadores.
E na entrevista?
- Pontualidade, asseio pessoal, educação, firmeza, confiança, escuta atenciosa e sem interrupções, honestidade, discrição em relação a empregos anteriores (quando houver) e entusiasmo devem ser as estrelas do ambiente e brilhar mais do que qualquer característica física, seja ela considerada dentro ou fora dos padrões.