Índices de endividamento voltam a crescer no país diante do atual cenário de crise econômica. Um dos principais legados da pandemia e instabilidade política vivenciadas nos últimos meses foi a retomada das solicitações excessivas de crédito. Com o desemprego e a inflação em alta, a população luta para conseguir fechar as contas. Abaixo, uma especialista explica as consequências e como fugir do endividamento.
Para quem está desempregado e sem renda fixa, as solicitações de linha de crédito se tornaram uma das poucas oportunidades de garantir a sobrevivência. O serviço, no entanto, concedido de forma desenfreada terá um impacto imediato e a longo prazo: colocar o Brasil nos mapas de endividamento.
Atentos a esse cenário, o FDR convidou Teresinha M. de Carvalho, professora de Ciências Contábeis e Gestão Financeira, do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP). Em entrevista exclusiva, ela traz um panorama da atual situação financeira dos brasileiros. Acompanhe:
Quais as principais causas do endividamento das famílias?
As principais causas são a junção de dívidas em cartão de crédito que é um dos maiores vilões do endividamento principalmente com as compras parceladas, onde parte da renda fica comprometida meses à frente devida a grande parte dos usuários não realizarem o pagamento na data prevista gerando juros elevados. Os juros incidentes sobre o pagamento postergado acabam por tornar muitas vezes uma dívida impagável.
Financiamento bancário para realizar o pagamento dos cartões de crédito, onde se transfere uma dívida para outra fonte.
Limites do cartão de débito liberado pelas instituições financeiras para os correntistas, onde os valores acabam por serem utilizados pelas pessoas como uma renda disponível.
A compra em lojas com a utilização de carnês sem o devido entendimento do comprometimento da renda.
Empréstimos consignados para compras não planejada devidamente ou para sanar dívidas que acabam por transferir o endividamento de uma fonte para outra, acrescentando normalmente juros inferiores na captação, pois a parcela é debitada diretamente no pagamento da empresa ou no caso dos aposentados no crédito da aposentadoria.
Quais as consequências do endividamento excessivo?
O excesso de endividamento traz consequências financeiras e pessoais;
Financeiras:
- Comprometimento da renda no pagamento dos juros e multas referente aos atrasos de pagamento de cartões, bancos, carnes etc.
- Restrição de crédito tornando as possibilidades de captação de novos recursos limitadas.
- Perda de crédito no mercado em geral devido ao registro de inadimplente nos cadastros como o Serasa e SPC.
- Impossibilidade de financiamentos na compra da casa própria, mesmo através de programas realizados com incentivo governamental.
- Perda do patrimônio.
- Restrição no consumo realizado normal de subsistência, reduzindo compra de alimentos, transporte, diversão, etc.
Pessoais:
- Desestruturação familiar.
- Perda da perspectiva de crescimento no futuro.
- Problemas psicológicos acarretados pelo estresse e pressões da administração dos problemas gerados com a família e as instituições.
- Queda na qualidade de vida de uma forma geral.
A concessão das linhas de crédito aprovadas pelo Governo Federal pode agravar a situação econômica do país?
Existem dois aspectos importantes:
Positivo:
A concessão de crédito a juros menores pode ser uma excelente alternativa para a reestruturação ou quitação das dívidas existentes das pessoas. Neste caso o valor deve ser utilizado somente para o pagamento das pendências financeiras, tais como negociar o cartão de crédito quitando total ou parte, o benefício neste caso é a troca de uma dívida com juros elevados por uma com menor índice. Pagamento de carnês diversos, limite de crédito da conta corrente, empréstimos familiares e outros valores que estejam comprometendo a renda.
Negativo:
A utilização do empréstimo para quitação das dívidas pendentes e a realização de novas dívidas. Utilizar o empréstimo como fonte de compras e deixar de pagar ou reduzir as pendências de pagamento que comprometem a saúde financeira.
Qual a melhor estratégia para tentar fugir dos índices de endividamento?
A melhor estratégia é o planejamento financeiro, sendo que podemos iniciar de forma simples pela renda da família e o entendimento das despesas.
O importante é determinarmos quanto é possível dispor para as despesas, sempre considerando que, por exemplo nas compras parceladas o valor deve ser inserido como a ser pago impreterivelmente no prazo, pois atrasos acarretam a elevação do valor e consequente redução da renda disponível. Despesas com alimentação normalmente não podem ser postergadas então temos que considerar que o valor sempre estará na composição, assim como habilitação com todos os custos que a compõe.
O controle pode ser em realizado através de sistemas disponíveis no mercado, planilhas de controle e até mesmo um caderno que nos mostre claramente os dados, porque a partir do entendimento entre a renda e a despesa, as decisões tomadas são mais assertivas devido a pensarmos o que vamos fazer.
Há uma previsão para uma possível recuperação econômica no Brasil?
A economia brasileira está em um processo paulatino de recuperação, podendo ser observado pelo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). A situação brasileira foi muito impactada pelo período da pandemia, e agora estamos retomando as atividades e reduzindo o nível de desemprego no país, tornando possível e sustentável a recuperação econômica.
A maior preocupação, porém, é o controle inflacionário que impacta diretamente nos custos da população, elevando os preços e consequentemente reduzindo o poder aquisitivo e, que apesar da recuperação do emprego a renda dos trabalhadores está reduzida devido ao achatamento dos salários pós-pandemia, resultando no crescimento negativo da economia no país.
Atualmente, quais são as principais despesas que levam a população aos indicativos de endividamento?
As principais despesas são de subsistências:
- Alimentação
- Moradia: Parcelas de pagamento da casa própria, aluguel, água, energia elétrica, gás, IPTU
- Saúde
- Transporte
- Educação
No caso do empréstimo pelo Auxílio Brasil, quais são os riscos da aprovação desse tipo de serviço?
O empréstimo através do Auxílio Brasil tem o aspecto positivo, pois devido ao tipo consignado haverá menores taxas de juros devido a certeza do pagamento, pois o desconto é diretamente na fonte de recebimento.
O risco é que as pessoas utilizem este valor para suprir as necessidades do momento ou mesmo a quitação de dívida e não considerem que no próximo recebimento o valor disponível do mês será reduzido, neste caso os problemas nos pagamentos futuros podem aumentar.
O Brasil entrando em crise com a população endividada, o que será necessário para reverter esse cenário?
A principal ferramenta para reverter esse cenário crescente é o ensino da educação financeira, onde o conhecimento das despesas detalhadamente e a renda efetivamente recebida podem mostrar onde o se encontram os principais fatores do endividamento.
É necessário que o governo demande inciativas para instruir a população, principalmente as que tenham faixa menor de renda, introduzindo nos currículos escolares desde a infância ferramentas para controle dos valores pagos, recebidos e as consequências do descontrole.
A educação financeira deve ser um aprendizado diário, a parte adulta da população também deve ser focada com programas específicos governamentais para este conhecimento. Devemos entender que parte relevante da população tem deficiência no aprendizado, os índices baixos de conhecimento de português e matemática tornam mais desafiador a implantação dos programas, porém devem ser implantados para que as ferramentas auxiliem a população e estaque este problema que corrói a parte financeira e qualidade da vida pessoal.
As eleições devem impactar nos indicativos econômicos e consequentemente no bolso da população? Como?
As eleições impactam normalmente no sentido de uma revisão das perspectivas gerais, seja pelo governante do momento ou os novos candidatos ao cargo. Independente da finalização do pleito o sentido sempre será da continuidade do crescimento do país, da população e de seus indicadores.
Podemos observar que uma das fontes de preocupação dos governos é na utilização ferramentas para que as populações de menor poder aquisitivo consigam se reestruturar, através de auxílios, bolsa família, empréstimos diferenciados entre outros com o objetivo de melhorar as condições desta faixa da população.
Outro foco importante é a continuidade dos incentivos às empresas de uma forma geral, para as pequenas e médias estão disponibilizados programas de incentivo através de empréstimos, capacitação técnica e de gestão. Nas grandes empresas existem projetos de incentivo diferenciados na captação de recursos e capacitação, resultando no crescimento consistente da área agrícola gerando resultados positivos nos índices do país como o PIB (Produto Interno Bruto), Balança Comercial e aumento das reservas em moeda internacional, principalmente o dólar, visto que o país é um dos maiores exportadores nesta área.
Abaixo, simule o valor pago em seus créditos através das taxas de juros simples: