- O dólar afeta grande parte dos bens e serviços consumidos no país;
- A moeda norte-americana tem apresentado alta durante a pandemia;
- Fatores internos têm feito com que o dólar registre aumento.
O dólar tem sido um dos fatores que mais tem afetado a inflação brasileira. Como diversos bens e serviços consumidos no Brasil são influenciados pelo valor comercial da moeda estrangeira, o bolso vem ficando apertado. Entenda como aumento do dólar impacta no valor dos nossos alimentos e combustíveis.
No ano passado, o dólar fechou com aumento acumulado de 29%. Desde então, a moeda norte-americana vem sendo cotada acima dos R$ 5 em diversos momentos.
Conforme a Austin Rating, considerando 20 países emergentes, o Brasil ocupa a terceira posição entre as nações com mais desvalorização da moeda local frente ao dólar. O estudo leva em consideração o período da pandemia. Neste tempo, o real teve desvalorização de 17%.
Por mais que o dólar valorizado seja positivo para os exportadores no país, a população acaba sendo impactada negativamente.
Como aumento do dólar impacta no valor dos nossos alimentos e combustíveis?
Diversos alimentos consumidos pelos brasileiros tiveram alta por conta do dólar. Itens presentes na cesta básica são influenciados por esta moeda — o que torna este problema presente na vida de uma parcela considerável da população.
O valor da soja, milho e trigo são estabelecidos pelo mercado internacional. Consequentemente, com o dólar elevado, os alimentos produzidos com esses ingredientes são afetados.
Por exemplo, a ração do gado é feita de soja e milho. Com isso, a carne passa a ficar mais cara. Além disso, por conta do real desvalorizado, há uma tendência de exportação — de modo a sobrar menos para o consumo do brasileiro —, resultando em aumento no preço nos mercados.
Ao Jornal Nacional, o economista do Ibre/FGV, André Braz, explica que, com exceção dos alimentos e natura — frutas, legumes e hortaliças — que possuem uma produção nacional, os demais alimentos industrializados são impactados, de alguma forma, pelo câmbio.
Sobre o combustível, o preço do insumo é atrelado ao dólar no mercado internacional. Ao podcast Educação Financeira, o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, alega que a Petrobras, ao formar o preço, considera a cotação internacional do petróleo e a evolução do câmbio.
Por conta disso, quando o real se desvaloriza, ele explica que isso se torna um gatilho para um reajuste nos valores dos derivados do petróleo.
Problemas internos têm afetado o real frente ao dólar
Diante da identificação de uma crise interna, investidores internacionais e grandes empresas mundiais — com receio de aplicar ou com necessidade de recuperar o caixa — deixam de investir no Brasil. Pela falta de confiança, investimentos também podem ser tirado.
Como resultado da saída de investidores e empresas do Brasil, o valor do dólar tende a aumentar. Isso acontece por conta do aumento da procura pela moeda estrangeira. Desse modo, o real se desvaloriza frente ao dólar.
O economista-chefe na Austin Rating, Alex Agostini, afirmou ao Jornal Nacional que o Brasil possui alguns problemas internos que afetam a situação atual. Ele cita que o país passa por uma crise fiscal “há muito tempo”.
Segundo ele, desde 2014, há uma preocupação na capacidade do governo de estar com as contas em ordens. Agostini também cita a preocupação com o ambiente político.
Especialistas apurados pelo Correio Braziliense entendem que a taxa de câmbio é bastante sensível a ruídos fiscais e políticos.
Segundo a economista do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, mesmo que, inicialmente, a pandemia de covid-19 tenha impactado a disparada do dólar, um conjunto de fatores conjunturais no Brasil contribui para uma taxa de câmbio bastante alta.
Entre os fatores conjunturais que causam um ambiente de risco no país para os investidores estrangeiros, ela aponta a crise institucional, a proximidade das eleições de 2022, a falta de reformas e a polarização da situação eleitoral.
O diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldo Souza Júnior, também cita o nível de endividamento alto no Brasil, o déficit das contas públicas desde 2014 e despesas primárias em elevação.