O que é a aposentadoria especial reivindicada na greve dos caminhoneiros?

SALESóPOLIS, SP — A recente convocação de greve dos caminhoneiros no Brasil inclui, entre suas principais reivindicações, a concessão de uma aposentadoria especial — com 25 anos de atividade.

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O que é a aposentadoria especial reivindicada na greve dos caminhoneiros?
(Foto: Montagem/FDR)

🎯 Contextualização: reivindicação na greve

  • Segundo as pautas protocoladas pela União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC), um dos pedidos apresentados na greve é a aposentadoria especial após “25 anos de atividade”.
  • A greve, anunciada para 4 de dezembro de 2025, reúne também outras demandas da categoria — embora a aposentadoria especial esteja entre as de maior destaque.

✅ O que é “aposentadoria especial” para caminhoneiros

A “aposentadoria especial” é um benefício previdenciário destinado a trabalhadores expostos a condições de trabalho nocivas à saúde ou periculosas.

No caso dos caminhoneiros, a reivindicação parte do reconhecimento da penosidade da profissão: longas jornadas, ruído, vibrações, risco de acidentes, estresse e outras adversidades inerentes ao transporte rodoviário.

Tradicionalmente, a especialidade da aposentadoria permitia que motoristas e caminhoneiros se aposentassem com 25 anos de atividade, sem a exigência de idade mínima — desde que pudessem comprovar o exercício da função.

⚠️ As mudanças e os desafios legais

  • A partir de 1995, com a promulgação da Lei 9.032/95, foi extinto o direito automático à aposentadoria especial com base apenas na profissão. Para ter direito ao benefício, agora é obrigatória a comprovação da exposição a agentes nocivos à saúde — ruído alto, vibração, risco permanente, insalubridade ou periculosidade, de forma habitual. 
  • Ou seja: não basta ser “caminhoneiro” ou “motorista de caminhão”. É preciso demonstrar, via documentação (como o chamado Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP ou o Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho – LTCAT), que o trabalhador esteve exposto de fato a condições prejudiciais. 
  • Recentemente, houve decisões judiciais que voltaram a reconhecer o caráter especial das atividades de motoristas profissionais — o que fortalece a jurisprudência para concessão do direito aos caminhoneiros. 
  • Porém, mesmo com esse entendimento, cada pedido de aposentadoria especial exige análise individual — com documentação comprobatória, perícias quando necessário, e pode haver disputa judicial, especialmente para autônomos ou motoristas sem vínculo formal. 

🔎 Por que os caminhoneiros voltam a pedir isso

  • A função de caminhoneiro envolve desgaste físico e mental significativo, exposição contínua a ruído, vibração, longas horas de direção, risco de acidentes, variações de clima e estresse. Por isso, muitos veem a aposentadoria especial como uma forma de compensar os riscos e a penosidade da profissão. 
  • Do ponto de vista da categoria, garantir esse direito com 25 anos de atividade representaria uma saída mais digna — reduzindo o tempo de trabalho e o desgaste acumulado, especialmente para autônomos e motoristas de longa data que elevaram seu tempo de estrada. 
  • A reivindicação também atende a uma demanda histórica: vários caminhoneiros e motoristas reivindicam o reconhecimento da periculosidade e insalubridade do trabalho, algo que, para muitos, está subvalorizado pela legislação atual.

📌 Situação atual: entre esperança e incerteza

  • Há um projeto de lei — PL 3849/21 — que propõe a concessão da aposentadoria especial aos caminhoneiros, carreteiros e categorias similares, seja como empregados com carteira assinada ou como autônomos. A proposta já foi aprovada em comissão da Câmara dos Deputados, mas ainda aguarda tramitação. 
  • Ao mesmo tempo, o reconhecimento depende de comprovação formal das condições de trabalho — o que pode tornar a conquista mais difícil para muitos profissionais, especialmente os autônomos, ou aqueles que trabalharam sem registros claros. 
  • Para parte da categoria, esse histórico de dificuldades justifica a greve: a aposentadoria especial representa não apenas um direito previdenciário, mas também uma compensação pela penosidade e pelos riscos constantes da profissão. Por isso, o tema é central na pauta junto ao governo. 

Lila CunhaLila Cunha
Formada em jornalismo pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) desde 2018. Já atuou em jornal impresso. Trabalha com apuração de hard news desde 2019, cobrindo o universo econômico em escala nacional. Especialista na produção de matérias sobre direitos e benefícios sociais. Suas redes sociais são: @liilacunhaa, e-mail: lilacunha.fdr@gmail.com