SALESóPOLIS, SP — Pesquisadores brasileiros desenvolveram uma técnica promissora que utiliza a pele de peixe para tratar lesões na córnea, abrindo caminho para novos tratamentos para cegueira e problemas oculares graves.

(Foto: NeoOftalmo)
A seguir, apresentamos o que foi descoberto, como funciona, os potenciais benefícios e os desafios dessa inovação.
O que foi descoberto pelos cientistas
Um estudo realizado pelo Universidade Federal do Ceará (UFC), por meio do seu núcleo de pesquisa em medicamentos (NPDM‑UFC), revela que a pele da Tilápia‑do‑Nilo (Oreochromis niloticus), peixe bastante comum no Brasil, pode ser processada para gerar um biotecido que auxilia na regeneração da córnea.
Como funciona o tratamento contra cegueira usando pele de tilápia
A técnica consiste nos seguintes passos principais:
- Retirada da pele da tilápia;
- Processamento em laboratório para remover escamas e células, deixando apenas a camada de colágeno;
- Confecção da membrana biológica que será aplicada sobre a córnea lesionada como um enxerto ou “curativo” pós‑cirúrgico;
- A membrana atua como um arcabouço que protege a área lesionada, estimula a produção de novas células, promove o processo de reepitelização e é gradualmente absorvida pelo organismo.
Em testes com mais de 400 cães com lesões graves de córnea, o método mostrou resultados positivos na recuperação da visão ou prevenção da perda completa da função ocular.
Por que isso é importante
1. Potencial para reduzir a cegueira
Lesões de córnea podem levar à cegueira se não tratadas adequadamente. Um tratamento que acelera a regeneração da córnea pode diminuir o risco de perda visual permanente.
2. Custo e acessibilidade
Atualmente, existem membranas biológicas importadas (feitas de materiais bovinos ou suíços) para tratamento ocular, mas essas são mais caras e dependem de importação.
A utilização de tilápia permite fabricar uma opção nacional, possivelmente mais barata e acessível no Brasil.
3. Inovação na medicina veterinária e humana
Embora o estudo tenha sido realizado em cães, a técnica abre caminho para adaptações que poderiam beneficiar humanos com problemas na córnea ou até cegueira ligada a danos corneanos.
Desafios e cuidados
- Apesar dos resultados com animais, ainda é preciso realizar estudos clínicos em humanos para verificar segurança, eficácia, possíveis rejeições ou complicações.
- A fabricação e padronização do biotecido em escala industrial exigem monitoramento rigoroso de qualidade e esterilização.
- Questões éticas e regulatórias: uso de material biológico animal em humanos envolve aprovações legais e atenção às normas de biosegurança.
- O termo “reverter a cegueira” pode gerar expectativas exageradas — o tratamento atua sobre lesões da córnea e não necessariamente corrige todos os tipos de cegueira.

