Explosão Tatuapé: ter fábrica de fogos de artifício é crime?

SALESóPOLIS, SP — Uma explosão de grandes proporções no Tatuapé, zona leste de São Paulo, acendeu um debate urgente sobre a legalidade de armazenar e fabricar fogos de artifício em áreas urbanas — especialmente quando isso é feito de forma clandestina.

explosão tatuapé
Explosão Tatuapé: ter fábrica de fogos de artifício é crime?
(Imagem: Reprodução)

A tragédia, que deixou ao menos uma pessoa morta, feridos e dezenas de imóveis interditados, reacende a pergunta: ter uma fábrica de fogos é crime?

O que aconteceu no Tatuapé

Na noite de quinta-feira (13), um imóvel usado como depósito de fogos de artifício explodiu, gerando destruição em série.

Segundo a Polícia Civil de São Paulo, trata-se de um depósito ilegal, e o caso foi registrado como explosão, crime ambiental e lesão corporal no 30º DP (Tatuapé). 

A Defesa Civil interveio e interditou 21 imóveis vizinhos, por risco estrutural. A vítima fatal, segundo a polícia, seria a pessoa responsável por manter os artefatos pirotécnicos armazenados no local. 

O panorama legal: fabricar ou armazenar fogos de artifício pode ser crime?

1. Regulamentação e licenças

  • A fabricação, o comércio e o armazenamento de fogos de artifício no Brasil são regulados por legislação específica. 
  • De acordo com o Regulamento do Exército (Decreto D-2998), fábricas de fogos só podem funcionar em áreas consideradas perigosas, afastadas de centros urbanos, e precisam obedecer a “tabelas de quantidades-distâncias” para limitar riscos. 
  • Além disso, há uma obrigação de autorização policial para o fabrico e comercialização.

2. Crimes e penalidades previstas

  • Um projeto de lei recente (PL 3381/15, entre outros) prevê que a queima não autorizada de fogos pode virar crime, com penalidade de detenção de 6 meses a 2 anos ou multa.
  • Também há limites de ruído para fogos de artifício: a CCJ do Senado aprovou regra para proibir artigos que excedam 70 decibéis, com multa para fabricantes e comerciantes e aplicação da Lei de Crimes Ambientais. 
  • No âmbito estadual ou local, também há regras específicas; por exemplo, no Distrito Federal, a legislação exige licença da polícia para venda e limites para venda de determinados tipos de fogos. 

3. Irregularidades graves: quando vira crime

No caso do Tatuapé, a acusação não é apenas de negligência: a polícia aponta armazenamento ilegal de artefatos explosivos. 

Isso pode configurar crimes graves. Segundo a legislação vigente, manter depósito de fogos sem autorização, em violação às normas de segurança, é ilegal — e pode haver responsabilização penal, especialmente se há risco para terceiros.

Além disso, o fato de a explosão ter sido registrada como “crime ambiental” sugere que os riscos à população e ao meio ambiente foram considerados pela autoridade policial. 

Por que não basta “fabricar”: as exigências são rigorosas

  • Legalidade exige autorização: não basta fabricar ou estocar fogos; é preciso licença da autoridade competente. 
  • Localização controlada: fábricas legais precisam ficar em áreas rurais ou “áreas perigosas” longe de residências, segundo regulamentações militares. 
  • Fiscalização: fabricantes devem obedecer regras de estoque, segurança e prestar contas às autoridades, incluindo registros de produtos controlados. 
  • Infrações penais previstas: mesmo quem apenas queima fogos de forma irregular pode ser penalizado, conforme o projeto de lei citado. 

Lila CunhaLila Cunha
Formada em jornalismo pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) desde 2018. Já atuou em jornal impresso. Trabalha com apuração de hard news desde 2019, cobrindo o universo econômico em escala nacional. Especialista na produção de matérias sobre direitos e benefícios sociais. Suas redes sociais são: @liilacunhaa, e-mail: lilacunha.fdr@gmail.com