Alerta PROCON‑SP: Você pode estar pagando o DOBRO de juros do empréstimo consignado

SALESóPOLIS, SP — No cenário atual de crédito no Brasil, uma modalidade que costuma despertar confiança — o empréstimo consignado — merece atenção reforçada. Um levantamento recente do Procon-SP revela que as taxas de juros aplicadas nessa modalidade podem variar de forma alarmante entre instituições financeiras.

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Alerta PROCON‑SP: Você pode estar pagando o DOBRO de juros do empréstimo consignado (Foto: I.A/Sora)

Se você ou alguém da sua família tem ou pensa em contratar empréstimo consignado — seja como aposentado/pensionista, servidor público ou trabalhador da iniciativa privada — este artigo traz o que você precisa saber para não cair em armadilhas e pagar mais do que deveria.

O que revelou o levantamento do Procon-SP

O estudo conduzido pelo Procon-SP em outubro de 2025 apontou:

  • A diferença de taxas de juros entre os bancos para contratos de consignado com prazos iguais (por exemplo, 48 meses) pode ultrapassar 100% — ou seja, em uma instituição a taxa pode ser mais que o dobro da de outra para o mesmo tipo de cliente. 
  • Por exemplo: para um trabalhador da iniciativa privada, em contrato de 48 parcelas, um banco chegou a oferecer 2,66% ao mês, enquanto outro aplicava 5,39% ao mês — variação de 2,73 pontos percentuais.
  • O relatório também mostra que as taxas médias registraram alta em relação ao mesmo período de 2024, tanto para aposentados do INSS (+ 0,18 ponto percentual) quanto para trabalhadores da iniciativa privada (+ 0,17 p.p.). 
  • O Procon-SP ressaltou que essa modalidade continua sendo alvo frequente de fraudes e descontos indevidos, especialmente para aposentados e pensionistas. 

Em resumo: não basta que o empréstimo seja consignado para significar automaticamente “juros baixos”. É necessário comparar ofertas, entender o contrato e ficar atento aos detalhes.

Por que existem taxas tão diferentes no consignado?

Vários fatores explicam por que você pode ver taxas tão distintas para empréstimos sob o mesmo tipo de garantia (desconto em folha):

  • Perfil do tomador: mesmo para a categoria “servidor público” ou “aposentado”, o nível de risco e o histórico bancário podem fazer diferença para a instituição.
  • Prazo e valor contratados: prazos mais longos ou valores elevados podem permitir ao banco “diluir” o risco, ou ainda exigir taxas maiores.
  • Estratégia comercial dos bancos: algumas instituições priorizam volume e oferecem taxas mais agressivas; outras operam com margem mais alta.
  • Custos operacionais e regulamentares: embora o consignado tenha desconto em folha, ainda há risco de inadimplência, o que leva bancos a majorarem taxas em certos casos.
  • Concorrência e convênios: para aposentados e servidores públicos, o convênio entre banco e órgão pode influenciar condições (prazo, taxa).

O resultado: duas pessoas com renda e categoria semelhantes podem receber ofertas muito diferentes — daí a importância de comparar.

Como o consumidor pode se proteger e evitar taxas abusivas

Para reduzir o risco de pagar “o dobro” dos juros ou cair em condições desfavoráveis, siga estas orientações:

  1. Compare taxas entre bancos — Peça simulações em diferentes instituições, considerando o mesmo valor, prazo e perfil. O estudo do Procon-SP foi baseado justamente nessa comparação. 
  2. Analise bem o contrato — Verifique: taxa de juros mensal, prazo, valor da parcela, custo efetivo total (CET), encargos, se há cobrança de tarifa de abertura.
  3. Evite ofertas por telefone ou mensagem — A Procon-SP adverte que o consignado continua sendo alvo de golpes, com propostas que chegam por aplicativos ou redes sociais. 
  4. Acompanhe seu benefício ou folha de pagamento — Certifique-se de que os descontos são autorizados por você, e que não há contratos que você não reconheceu. Em caso de dúvida, acione o banco ou órgão responsável.
  5. Cuidado com “cartão consignado” ou “sacar consignado” — Essas modalidades geralmente têm taxas ainda mais elevadas e podem comprometer bastante a margem de desconto em folha.
  6. Planeje o impacto no orçamento — Mesmo sendo consignado (descontado em folha), o valor da parcela reduz sua renda disponível; avalie se cabe no seu orçamento.
  7. Não confie somente na “garantia” do desconto em folha — Essa garantia reduz o risco para o banco, mas não zera todos os riscos nem impede taxas elevadas.

Qual é o “patamar” de taxas observadas?

Segundo o levantamento:

  • A taxa mais baixa observada: cerca de 2,66% ao mês para um trabalhador da iniciativa privada em contrato de 48 meses.
  • A taxa mais alta para perfil semelhante: cerca de 5,39% ao mês
  • Isso significa que, para cada R$ 1.000 emprestados, por exemplo, a diferença acumulada de juros ao longo dos meses pode se tornar bastante significativa.
  • É importante destacar que essas são taxas mensais, e na simulação de 48 parcelas o impacto final será bastante maior.

Assim, se você aceita a primeira oferta que aparece sem comparação, pode estar pagando muito mais caro do que consumidores em outra instituição com perfil de risco semelhante.

Lila CunhaLila Cunha
Formada em jornalismo pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) desde 2018. Já atuou em jornal impresso. Trabalha com apuração de hard news desde 2019, cobrindo o universo econômico em escala nacional. Especialista na produção de matérias sobre direitos e benefícios sociais. Suas redes sociais são: @liilacunhaa, e-mail: lilacunha.fdr@gmail.com