SALESóPOLIS, SP — O Comando Vermelho (CV) é considerado, hoje, a facção criminosa mais antiga — e uma das mais influentes — do Estado do Rio de Janeiro. Sua origem, expansão e formas de atuação explicam porque exerce papel de relevo no cenário de segurança pública brasileiro.

(Foto: Agência Brasil)
Neste artigo, vamos entender o que é o Comando Vermelho, como ele surgiu, como se espalhou e qual é o seu impacto.
O que é o Comando Vermelho
O Comando Vermelho é uma organização criminosa de caráter multifacetado: atua no tráfico de drogas, contrabando de armas, controle territorial e influência social em comunidades.
Segundo reportagens recentes, ele já alcançou área de atuação que abrange o Estado do Rio e diversos outros estados brasileiros.
Sua estrutura mistura facetas de poder paralelo dentro de comunidades carentes, com hierarquia interna, alianças e rivalidades com outras facções, e forte presença no sistema penitenciário.
Como surgiu
A criação do Comando Vermelho remonta ao final dos anos 1970, dentro do sistema prisional carioca.
Tudo começou na penitenciária do Instituto Penal Cândido Mendes, em Ilha Grande (RJ), onde presos comuns e presos políticos da ditadura militar foram reunidos.
- Nesse ambiente, surgiram as condições para formação de um bloco de presos que reivindicava melhores condições e criava laços de solidariedade — daí a origem de um grupo que viria a se chamar inicialmente “Falange Vermelha” ou “Falange da Segurança Nacional”.
- Com o tempo, o grupo evoluiu, as identidades se modificaram, e ele passou a tomar o nome “Comando Vermelho”.
Esse nascimento carcerário marca um ponto de virada: não se tratava apenas de crime organizado tradicional, mas de um arranjo que misturava reivindicação prisional, poder asalariado e violência armada.
Expansão e consolidação no Rio de Janeiro
Depois de sua origem, o CV ganhou força nos anos 1980 e 1990 no Rio de Janeiro, principalmente ao dominar favelas, morros e bairros marginalizados.
Ele passou a exercer controle territorial: venda de drogas, imposição de poder paralelo, presença quase estatal em comunidades sem forte atuação do governo.
Estudos recentes apontam que entre 2022 e 2023 o Comando Vermelho foi a única organização criminosa a aumentar sua área de domínio no estado do Rio, aumentando cerca de 8,4% sua área controlada e passando a responder por mais de 50% das regiões dominadas por grupos armados na Região Metropolitana do Rio.
Expansão para além do Rio e status nacional
O Comando Vermelho não ficou restrito ao Rio de Janeiro. A partir dos anos 2000, a facção ampliou sua atuação para várias regiões do Brasil — especialmente Norte e Nordeste — estabelecendo parcerias ou alianças com grupos locais, bem como disputando rotas de tráfico em áreas de fronteira.
Essa expansão representa dois aspectos-chave:
- Logística e rotas — O CV passou a atuar em rotas de entrada de entorpecentes vindos de países vizinhos.
- Modelo de franquia — A facção funciona não mais como um único núcleo centralizado, mas como uma rede distribuída, onde “chefes de morro” têm autonomia e se associam ao modelo CV.
Modo de atuação & impacto
Atuação nas comunidades
O CV exerce forte controle em favelas e morros. Sua presença vai além do tráfico: há imposição de regras próprias, fornecimento de “assistência” (como cestas básicas, festas, proteção) em regiões onde o Estado tem baixa presença. Essa atuação cria a dependência da comunidade, ao passo que reduz a autoridade estatal.
Atuação criminosa
As atividades do Comando Vermelho englobam: tráfico de drogas, contrabando de armas, extorsão, roubo de carga, pirataria, jogos de azar.
No sistema prisional, a facção mantém presença comunicativa, coordena ações externas, e extende seu poder para além das grades.
Impacto na segurança pública
O fortalecimento do CV tem implicações sérias: aumento da violência nas favelas, confrontos armados com forças de segurança, disputas territoriais com outras facções e com milícias.
A expansão de sua área de controle revela que, em muitas regiões, o Estado convive com um poder paralelo que desafia sua autoridade formal.
Por que é considerada “a maior facção da história do Rio de Janeiro”?
- Pelo seu tempo de existência: são mais de quatro décadas de atuação contínua.
- Pela penetração territorial: controle de vastas áreas no Rio de Janeiro e presença em outros estados.
- Pela adaptação: o CV evoluiu de um grupo carcerário para uma rede com multiplicidade de núcleos, alianças e alcance nacional.
- Pela capacidade de mudar a dinâmica urbana: onde ele domina, o “governo” local muitas vezes é substituído por regras próprias da facção.

