Na última semana, o Brasil acordou diante de um surto de intoxicações por metanol, com 59 casos suspeitos registrados oficialmente até 2 de outubro.
A maioria ocorreu em São Paulo, mas também há notificações em Pernambuco.
O Ministério da Saúde montou uma sala de situação para acompanhar os desdobramentos. Enquanto isso, governos estaduais intensificam interdições de bares e distribuidoras e apreendem milhares de garrafas adulteradas.
O cenário, porém, é grave: o metanol, álcool altamente tóxico, não é ideal para o consumo humano ─ muito pelo contrário.
Em doses pequenas, pode causar cegueira irreversível; em quantidades maiores, leva à morte. A maior suspeita é de que criminosos usaram o produto em bebidas para aumentar lucros.
De quem é o metanol? As principais hipóteses
A pergunta central para muitos neste momento, sobretudo, quem quer justiça, é: de onde veio o metanol que chegou às bebidas? Até o momento, três hipóteses dominam as investigações:
1. Metanol do PCC e adulteração de combustíveis
A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) aponta que facções criminosas, como o PCC, importam metanol para adulterar combustíveis. Isso ficou claro durante a recente operação Carbono Oculto.
A especulação então seria a seguinte. A intensificação de operações policiais contra postos e distribuidoras ligadas ao crime teria travado a facção.
Para não perder carga, parte desse insumo teria sido desviada para destilarias clandestinas de bebidas. Linha que figuras como, por exemplo Jorge Lordello, defendem.
Essa teoria ganhou repercussão, mas ainda não há provas apresentadas pela PF. Inclusive, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, chegou a declarar que não existem evidências que confirmem o envolvimento direto da facção.
2. Destilarias e engarrafadores clandestinos
As operações da Polícia Civil e da Secretaria da Segurança Pública de SP mostram outra face. Afinal, há indícios de redes de falsificação de bebidas que atuam no mercado paralelo.
Nesta semana, centenas de garrafas de vodka, gin e uísque foram apreendidas com metanol, e bares foram interditados em diferentes cidades.
Esse é o elo mais sólido até o momento: o metanol foi usado por falsificadores para substituir etanol, criando uma cadeia de distribuição letal.
3. Desvio industrial e importação fraudulenta
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) informou que o Brasil não produz metanol.
Portanto, todo o volume usado em indústrias (combustíveis, solventes, químicos) é importado sob rígida licença. Então, Isso abre duas possibilidades:
- desvio logístico durante transporte ou armazenagem;
- importações fraudulentas, feitas por empresas de fachada ou com documentação falsificada.
A Polícia Federal, entretanto, investiga justamente essas brechas.
O que dizem as autoridades sobre o metanol?
- Ministério da Justiça e PF: abriram inquérito federal para identificar a rota do metanol e eventual envolvimento de facções.
- Senacon: avalia a responsabilidade de empresas e a falta de rastreabilidade.
- Saúde: mantém a sala de situação e reforça que o problema é de saúde pública.
- Governo de SP: concentra-se em interdições e divulgação de casos confirmados, mas evita vincular diretamente ao PCC sem provas.
O efeito borboleta do metanol em bebidas alcoólicas
Para a população, o efeito que chega é imediato: medo de consumir bebidas alcoólicas fora de locais de confiança.
Estabelecimentos suspeitos vêm sendo interditados, mas as apreensões mostram a escala do problema.
No campo econômico, a crise expõe fragilidades na fiscalização de importações químicas e pressiona governos a revisar normas.
Já no campo criminal, o caso reforça os debates sobre o financiamento de facções através de atividades paralelas — seja adulterando combustíveis, seja falsificando bebidas.
Histórico: por que essa crise explode agora?
O uso criminoso do metanol não é novidade. Há anos, operações contra combustíveis adulterados já revelavam seu uso. O que muda agora é a migração do insumo para bebidas falsificadas, aumentando a letalidade.
Em 2024, a ANP endureceu regras de importação, mas facções encontraram brechas.
Somado a isso, operações que fecharam distribuidoras ilegais podem ter forçado criminosos a realocar estoques de metanol para outras atividades, criando o cenário atual.
De todo modo, é importante salientar que até o momento, a pergunta “de quem é o metanol?” não tem resposta oficial.
O que há são fortes indícios de que parte dele vem do mercado ilegal controlado por facções. Porém, as autoridades não descartam rotas paralelas de desvio industrial.
A conclusão dependerá do avanço das investigações da PF, que agora buscam mapear quem importou, quem desviou e quem distribuiu o produto que terminou em garrafas vendidas ao consumidor comum.
Enquanto isso, a orientação é clara: evitar bebidas de origem duvidosa e acompanhar de perto os desdobramentos desse caso, que mistura crime organizado, falhas de fiscalização e risco direto à vida.
Confira as atualizações mais recentes do governo mediante este cenário.