Um vídeo compartilhado pelo perfil Poponze, no X (antigo Twitter), viralizou ao mostrar um jovem brasileiro de 21 anos. Nele, o jovem relata, em lágrimas, que “90% da ansiedade dele é causada pela pobreza”.
O desabafo, que já acumula mais de 284 mil visualizações e 12 mil curtidas, rejeita a ideia de romantizar a vida pobre. Assim, expõe a pressão psicológica enfrentada por milhões de jovens no Brasil.
Jovem grava vídeo chorando e diz não suportar mais viver na pobreza:
“90% da minha ansiedade é porque eu sou pobre, eu tenho certeza disso. Tem gente que gosta de romantizar a pobreza. Me botaram no mundo para sofrer. Que ódio eu tenho da pobreza.” pic.twitter.com/5oEBs9kolf
— poponze (@poponze) October 2, 2025
Pobreza e saúde mental: números preocupantes
Segundo o Banco Mundial, cerca de 21% a 23% da população brasileira vive em situação de pobreza (dados 2024-2025).
Pesquisas mostram que pessoas de baixa renda em áreas urbanas têm 2 a 3 vezes mais risco de desenvolver ansiedade ou depressão. Estes números são diferentes da ideia que muitos têm de associar pessoas a classes mais altas a estas doenças.
O desabafo do jovem, no entanto, encontrou eco em milhares de comentários. Neles, internautas relacionaram dificuldades financeiras a quadros de pânico, crises de choro e frustração com o futuro.
Muitos apontaram também o peso das redes sociais, que intensificam a sensação de comparação e fracasso ao exibir estilos de vida inalcançáveis para grande parte da população.
A geração “nem-nem” e a dificuldade de inserção
O caso também reacende o debate sobre a chamada geração nem-nem — jovens que nem estudam, nem trabalham.
No Brasil, estima-se que mais de 9 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos se enquadrem nessa condição, segundo o IBGE.
A falta de oportunidades, aliada a um mercado de trabalho competitivo e a precarização dos empregos, alimenta sentimentos de desesperança.
Especialistas em psicologia social, diante deste cenário alertam. A combinação de baixa renda, instabilidade e pressão por sucesso cria um terreno fértil para transtornos mentais.
Por isso, não é incomum ver jovens relatarem sentir que a vida adulta chega sem a perspectiva de conquistas que marcaram gerações anteriores. Como, por exemplo, comprar uma casa ou alcançar estabilidade financeira.
Crise econômica e juventude: um ciclo difícil
A ansiedade citada no vídeo está ligada não só às condições individuais, mas também a um contexto estrutural. Ou seja: inflação elevada, endividamento recorde das famílias e a exigência de múltiplas qualificações profissionais.
Em meio a esse cenário, o discurso do jovem viralizou justamente por traduzir em poucas palavras o que milhares de brasileiros vivem. É o impacto direto da pobreza sobre a saúde emocional.
Enquanto isso, nas redes sociais, a discussão cresce e ganha força como denúncia contra o peso da desigualdade.
Para muitos, o vídeo, portanto, soa mais do que como um desabafo. É visto, sobretudo, como um retrato cru de uma nova geração que já sente que está “surtando” diante da incerteza do futuro.