A transição para a vida adulta traz uma das decisões mais simbólicas: quando sair da casa dos pais. Embora culturalmente vista como um marco de independência, pesquisas mostram que não existe uma “idade universal” ideal, mas sim fatores econômicos, sociais e psicológicos que moldam esse momento.
Panorama no Brasil, EUA e Europa
No Brasil, o fenômeno da “geração canguru” vem crescendo. Segundo o IBGE, em 2015 cerca de 25,3% dos jovens entre 25 e 34 anos ainda viviam com os pais — número que já havia aumentado em relação a 2004.
Entre 2012 e 2022, a Kantar IBOPE Media registrou um salto de 137% nessa faixa etária que permanece no lar familiar.
Nos Estados Unidos, levantamento do Pew Research Center indica que 18% dos adultos entre 25 e 34 anos moravam com pelo menos um dos pais em 2023.
Na União Europeia, os dados do Eurostat revelam uma média de saída aos 26,3 anos em 2023, mas a realidade varia bastante. Em países do norte, como a Finlândia, por exemplo, jovens deixam a casa por volta dos 21 anos. Já no sul e leste europeu, como Croácia, a média ultrapassa os 31 anos.
Por que os jovens adiam a saída
Os principais fatores identificados por estudos internacionais e nacionais são:
- Mercado de trabalho e renda: no Brasil, estar desempregado reduz consideravelmente a chance de sair de casa. No Reino Unido, análises mostram que morar com os pais gera uma “economia” de até £560 por mês, o que explica a escolha.
- Custo da moradia: em grandes centros urbanos, de fato, o preço dos aluguéis é uma barreira evidente.
- Estudo prolongado: jovens que permanecem em cursos de graduação ou pós-graduação tendem a adiar a independência.
- Diferenças de gênero: pesquisas brasileiras apontam que homens entre 26 e 35 anos têm mais chances de continuar vivendo com os pais do que mulheres na mesma faixa.
A relação de sair da casa dos pais com o bem-estar
Sair da casa dos pais não é só um passo financeiro, mas também emocional.
Estudos apontam que a saída está ligada a ganhos de autonomia e amadurecimento, porém, os efeitos variam conforme o contexto.
- Retorno (“boomerang”): pesquisas realizadas na pandemia mostraram que voltar a morar com os pais pode reduzir a satisfação de vida e aumentar sintomas depressivos, sobretudo quando a decisão não é voluntária.
- Pais e o “ninho vazio”: estudos europeus recentes indicam queda na satisfação de vida dos pais quando os filhos se mudam, embora a intensidade varie culturalmente.
- Autonomia vs. apoio: em culturas onde a permanência prolongada é comum, como no sul da Europa e no Brasil, o impacto emocional tende a ser menor, pois há mais apoio familiar envolvido.
Então, qual é a idade ideal?
Do ponto de vista científico, não existe idade ideal para deixar a casa dos pais. O que os levantamentos mostram é que a decisão depende de três pilares:
- Prontidão financeira: conseguir arcar com aluguel, contas e alimentação.
- Maturidade emocional: estar preparado para gerir responsabilidades cotidianas.
- Contexto cultural e familiar: em sociedades coletivistas, sair cedo não é regra; já em culturas individualistas, é um marco esperado.
Em resumo, não é a idade no calendário que determina o momento certo, porém, a soma de condições práticas e emocionais. Por isso, cada indivíduo deve avaliar quando está preparado para assumir a autonomia sem comprometer seu bem-estar.