A trajetória de Paulo Leminski revela um contraste marcante entre o gênio literário e o cotidiano de sobrevivência. Hoje, de fato, é um dos maiores nomes da poesia brasileira.
Contudo, o lendário samurai-malando, viveu como professor, tradutor e redator para sustentar a família em Curitiba. Enquanto isso, sua obra circulava mais em nichos do que no grande público.
Infelizmente, sua morte precoce, aos 44 anos, ocorreu antes ver a consagração e amplo reconhecimento que viria apenas anos depois.
A vida múltipla de Leminski
Nascido em Curitiba, em 1944, Leminski participou cedo dos movimentos de vanguarda, sendo próximo, inclusive, dos irmãos Campos ─ que estavam à frente do concretismo no país.
Ao longo da carreira Leminski escreveu poemas, romances experimentais, biografias, além de traduzir clássicos.
No entanto, para sobreviver, deu aulas, escreveu textos publicitários e se desdobrou em diferentes funções.
Apesar da produção intensa, Leminski não obteve, em vida, o reconhecimento massivo que hoje desfruta.
Sua poesia, marcada pelo humor, pela concisão e pela influência do haicai, integrou o que se classifica hoje como “poesia marginal (da década de 70)”, circulando principalmente no Sul.
Obras de Paulo Leminski que marcaram a literatura
Entre seus livros, hoje, de fato, alguns se destacam entre apreciadores de poesia e da literatura genuinamente brasileira:
- Catatau (1975), romance experimental que imaginava Descartes alucinado nos trópicos.
- Caprichos & relaxos (1983), que consolidou sua voz poética.
- Distraídos venceremos (1987), um de seus títulos mais célebres.
Além disso, Leminski foi letrista, com músicas gravadas por Caetano Veloso, Arnaldo Antunes e Moraes Moreira. Isso apenas prova sua versatilidade e diálogo com a cultura popular.
Não dá para deixar de falar das biografias que escreveu e reuniu em uma obra que intitulou “Vida“. Nela, ele traz quatro figuras que julga importante e apresenta ali a sua vida, sendo essas figuras: Cruz & Souza, Bashô, Jesus Cristo e Trotsky.
O poeta que só virou best-seller depois da morte
Em vida, Leminski era cultuado em nichos, mas longe do “ar da grande massa”, que chegou a desejar em sua poesia.
Essa situação só mudou a partir de 2013, quando a Companhia das Letras lançou a coletânea “Toda poesia”, reunindo 630 poemas. O livro, então, rapidamente alcançou listas de mais vendidos, feito raro para poesia no Brasil.
Outro marco foi a exposição “Múltiplo Leminski”, que percorreu o país e atraiu centenas de milhares de visitantes. Mais recentemente, inclusive, o poeta foi homenageado na FLIP, consolidando-o como referência incontornável da literatura nacional.
Um legado que ultrapassa gerações
Hoje, Leminski é estudado em universidades, citado nas redes sociais e lembrado como símbolo de uma poesia que mistura erudição e cultura pop.
Sua influência se espalha em grafites, músicas e até no palco que leva seu nome em Curitiba: a Pedreira Paulo Leminski.
Ainda que tenha partido cedo e sem reconhecimento amplo, sua obra resistiu ao tempo e encontrou novos leitores. O que antes era marginal, hoje é central no debate sobre a poesia brasileira contemporânea.