“Se houver 31 dias em um mês, trabalharei 31 dias”, conheça a VERDADE por trás das blusinhas de R$ 30 da SHEIN

VITóRIA DA CONQUISTA, BA — Um zumbido incessante de máquinas de costura, baixa remuneração e horas de trabalho, conheça a realidade por trás das blusinhas de R$ 30 da SHEIN. As peças realmente chegam a o Brasil com baixo preço, mas possuem um custo que vai além do valor monetário; saiba mais.

“Se houver 31 dias em um mês, trabalharei 31 dias”,
conheça a VERDADE por trás das blusinhas de R$ 30 da SHEIN
Imagem: AdobeStock

Você até nunca ter comprado, mas provavelmente já viu algum anúncio de itens baratos exportados da China. As blusinhas de R$ 30 da SHEIN são um exemplo disso. Contudo por trás do preço baixo estão pessoas que muitas vezes trabalham muito para recebem pouco.

É como se para manter a balança equilibrada alguém tivesse que sair perdendo e são justamente os trabalhadores que perdem.

A verdade por trás das blusinhas de R$ 30 da SHEIN

Uma cidade próspera no Sul da China vem chamando atenção pelo barulho constante das máquinas de costura. Guangzhou é o nome dela, localizada às margens do rio das Pérolas.

Basta andar um pouco pelo bairro de Panyu para ouvir o barulho das máquinas de costura, que são ligadas pela manhã e desligadas tarde da noite. Nas fábricas os funcionários passam horas produzindo itens de vestiário que vão para mais de 150 países, entre eles o Brasil.

A produção é tão grande que o bairro ficou conhecido como a “vila da Shein”, lá as máquinas costuram, as blusinhas de R$ 30, além de calças, shorts, roupa de banho e muito mais.

Para atender a todo o mercado os trabalhadores possuem jornadas de trabalho exaustivas, geralmente com apenas três dias de folga.

“Se houver 31 dias em um mês, trabalharei 31 dias”, disse um à BBC.

Jornada de trabalho exaustiva na Shein

Uma equipe da BBC passou vias fazendo o levantamento de como acontece a produção das blusinhas na região. Ao todo foram visitadas 10 fábricas, e entrevistados 4 proprietários e 20 funcionários.

A descoberta impressiona, os funcionários chegam a ter jornada de 75 horas de trabalho. A carga horária extensa impressiona e viola leis trabalhistas chinesas. Justamente essa força de trabalho, formada principalmente por agricultores em busca de melhores condições de trabalho, que fez com que a Shein se tornasse conhecida mundialmente.

A estimativa é de que a Shein esteja valha cerca de US$ 60 bilhões de dólares (R$ 370 bilhões).

 Apesar de não aceitar falar com a BBC, a empresa chinesa emitiu uma nota em que reafirmou o seu compromisso com a classe trabalhadora.

“Nós nos esforçamos para estabelecer os mais altos padrões de remuneração e exigimos que todos os parceiros da cadeia de suprimentos sigam nosso código de conduta. Além disso, a Shein trabalha com auditores para garantir a conformidade”, diz ainda o comunicado.

O impressionante é que mesmo após as 22h da noite as máquinas de costura continuam produzindo e junto com elas os trabalhadores permanecem com longas jornadas. Geralmente é assim, o trabalho começa às 8h e se estende até mais de 22h.

“Normalmente trabalhamos 10, 11 ou 12 horas por dia”, explicou uma mulher de 49 anos de Jiangxi.

E piora, o descanso semanal que os brasileiros têm no domingo parece não existir na “Vila Shein”.

“Aos domingos, trabalhamos cerca de três horas a menos”, acrescenta a funcionária.

A entrevista é concedida quando ela, juntamente com outras pessoas, está em frente ao um quadro com oportunidades de trabalho. A medida que as encomendas aumentam as fabricas contratam mais funcionários temporários.

Pelas leis chinesas a jornada de trabalho deve ser de até 44 horas semanais e os empregadores ainda devem garantir um dia de folga por semana.

Baixa remuneração

Com uma jornada tão extensa a gente imaginaria que os funcionários da Vila Shein teriam boas remunerações, afinal estariam fazendo uma espécie de hora extra. Mas, essa não é a realidade.

“Nós ganhamos tão pouco. O custo de vida agora é muito alto. Somos pagos por peça. Depende da dificuldade do item. Algo simples como uma camiseta custa de um a dois yuans [menos de R$2] por peça e eu posso ganhar cerca de 12 yuans em uma hora”, afirma a mulher nascida em Jiangxi.

Um relatório emitido pelo grupo suíço de defesa Public Eye, com dados obtidos em entrevistas com 13 trabalhadores de fábricas têxteis que produzem roupas para Shein apontou qual o salário básico desses profissionais.

Geralmente eles recebem 2.400 yuans, ou seja R$ 2030 (sem horas extras), o que está abaixo dos 6.512 yuans que a Asia Floor Wage Alliance (associação internacional responsável pelo monitoramento dos salários da indústria têxtil em países asiáticos) aponta como “salário digno”.

Por outro lado, os trabalhadores ouvidos pela reportagem afirmam conseguir ganhar entre 4.000 e 10.000 yuans (R$ 3.380 a R$ 8.500) por mês, valores resultantes de longas horas extras.

“Essas horas [de trabalho] não são incomuns, mas está claro que são ilegais e violam os direitos humanos básicos. É uma forma extrema de exploração e isso precisa ser visível”, disse David Hachfield, do Asia Floor Wage Alliance.

A necessidade de pagar as contas tem feito com que os chineses se mantem em empregos como esses, mesmo com as jornadas tão exaustivas.

“Trabalho nessas fábricas há mais de 40 anos”, disse uma das funcionárias após ter até 20 minutos para comer.

A Shein agora pretende abrir capital na Bolsa de Valores de Londres, para antes disso vai ter que lidar com diversas questões.

Entre elas as condições de trabalho das fabricas que fornecem as peças e até dos fornecedores de algodão, que são acusados de oferecem condições desumanas de trabalho aos seus funcionários.

Laura Alvarenga, colaboradora do FDR, comenta sobre a taxa das blusinhas da Shein.

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Jamille NovaesJamille Novaes
Formada em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), a produção de texto sempre foi sua paixão. Já atuou como professora e revisora textual, mas foi na redação do FDR que se encontrou como profissional. Possui curso de UX Writing para Transformação Digital, Comunicação Digital e Data Jornalismo: Conceitos Introdutórios; e de Produção de Conteúdos Digitais.
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