Nesta semana o mercado financeiro não fala em outra coisa que não seja a alta do dólar. Na última segunda-feira (2) o registro foi histórico, e a moeda americana foi cotada a R$ 6,0685. Automaticamente o preço de produtos e serviços brasileiros são influenciados.
Embora o dólar não seja a moeda corrente do país, o seu aumento expressivo dos últimos dez dias acaba influenciando em uma série de produtos e serviços no Brasil. Para especialistas a alta na cotação da moeda tem haver com o pacote de corte de gastos anunciados pelo governo.
Para se ter uma ideia da gravidade, a moeda americana não chegava a esse patamar pelo menos desde maio de 2020, durante a pandemia de covid-19, quando a cotação atingiu R$ 5,90. Hoje, o novo recorde aconteceu entre segunda (2) e terça-feira (3), chegando a R$ 6,07.
A quipe financeira de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara uma série de medidas para conseguir seguir o arcabouço fiscal e ficar dentro da meta. Além disso, o governo incluiu a proposta de aumentar a isenção do Imposto de Renda para quem ganha R$ 5 mil por mês.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil acreditam que as recentes decisões do governo Lula têm gerando desconforto com o mercado e influenciado no aumento expressivo do dólar. A pesquisa mais recente da Quest mostrou que 90% dos agentes do mercado reprovam a atual gestão.
Por que os produtos brasileiros ficam mais caros com aumento do dólar?
Por que o aumento de uma moeda estrangeira influencia no custo de vida do Brasil?. O motivo é que muitos produtos e serviços oferecidos no país na verdade possuem procedência estrangeira, e por isso se está mais caro “lá fora”, também fica mais caro “aqui dentro”.
A cotação do dólar reflete o valor que os norte americanos devem usar como referência para comprar ou pagar produtos brasileiros. Ou seja, para quem recebe em dólar pode ser bom, mas para quem compra esse aumento é consideravelmente ruim.
O aumento, no entanto, não vai impactar apenas a vida de quem faz relações internacionais como as grandes empresas. Os pequenos consumidores também serão impactados porque:
- Se o valor para comprar insumos no mercado internacional fica mais caro, o valor da peça final também encarece;
- O pequeno consumidor vai comprar especificamente o produto final que encareceu por conta do aumento da matéria prima;
- Dificilmente o setor industrial não vai repassar, ou vai diminuir o repasse do reajuste da matéria prima para os consumidores.
Produtos que não serão impactados com a alta do dólar
Por outro lado, as empresas que exportam (vendem para fora) podem ter aumento da margem de lucro. Especialistas ouvidos pelo UOL acreditam nessa tendência, mas também defendem que para os exportadores ainda é cedo para comemorar.
Eles devem avaliar se de fato a tendência é que o dólar aumente, ou que se mantenha na faixa dos R$ 6,00.
“Uma desvalorização só é relevante quando é permanente, quando as empresas sabem que o câmbio vai ficar neste novo patamar a longo prazo. Assim, conseguem se programar e acertar os contratos“, diz Renan Pieri, professor da FGV-EAESP ao UOL.
Os especialistas ouvidos também listaram os setores que serão beneficiados com o aumento do dólar, e que por consequência podem trazer algum impacto para o consumidor.
Setor agrícola
- Especificamente para quem exporta, mas contribuinte automaticamente para as receitas nacionais.
Setor produtor de grãos
- soja;
- carnes;
- sucroenergético;
- oprodutos florestais;
- café;
- cereais.
Setor de turismo
- Vale tanto para quem vende viagens para o exterior em dólar, como para quem recebe turistas estrangeiros;
- “Quem recebe turistas, como o setor hoteleiro e de gastronomia, podem ver um benefício, mas deve demorar mais um pouco. Dificilmente as pessoas mudam de destino em cima da hora”, disse Ana Carolina Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) ao UOL.
Veículos
- Cerca de 30% dos custos para produção de veículos elétricos vem do diesel. Logo, se o diesel estiver mais caro, as margens de lucro das empreas aumentam enquanto o dólar estiver alto;
- O valor do carro nacional também pode ficar mais competitivo.