Ao longo da última década, quando as Americanas mascararam uma dívida de mais R$ 40 bilhões, em um dos maiores escândalos contábeis do mercado de capital brasileiro, os executivos da empresa receberam R$ 700 milhões em remuneração.
Esses números incluem salários, bônus de desempenho e pagamento em ações das Americanas, como apontou o levantamento feito pela coluna Pipeline, do jornal Valor Econômico, a partir dos dados disponíveis nos formulários de referência da companhia.
Analisando os números a partir da composição média da diretoria por ano, composta por 18 executivos, foram distribuídos R$ 3,9 milhões para cada alto funcionário por ano ou quase R$ 40 milhões por cabeça em apenas uma década.
Vale lembrar que, embora não seja uma remuneração média anual muito acima do praticado entre as empresas listadas do setor, parte relevante dos valores estava atrelada às metas de resultados, uma das linhas do balanço que foram maquiadas pelas “inconsistências contábeis”, que estão sendo chamadas de fraude pelos credores.
Diretoria da Americanas lucrou com dividendos
Os pagamentos à diretoria equivalem a um terço de tudo o que os investidores das Americanas receberam no mesmo período. Na década, a empresa varejista e a antiga B2W — dona do CNPJ que hoje representa a atual Americanas S.A. — distribuíram R$ 1,9 bilhão em dividendos e juros sobre capital próprio.
Vale lembrar que o grosso dos dividendos que foram pagos eram provenientes das operações das Lojas Americanas, que concentrava a administração das lojas físicas, pois a B2W quase sempre registrava prejuízos.
Durante o período de 10 anos, diretores, conselheiros e controladores levantaram R$ 464 milhões com a venda de ações da companhia (Lojas Americanas ou B2W). Mais da metade desse volume veio de vendas de ações no segundo semestre do ano passado.
Assim, só em 2022, a então diretoria levantou R$ 241,5 milhões em recursos só com a venda de papéis, um ritmo muito mais intenso do que na década toda. Inclusive, as transações dispararam entre agosto e outubro, depois que as ações da companhia aumentaram de valor, como reação à indicação de Sérgio Rial como CEO.
Dessa forma, o período exato das inconsistências contábeis ainda é desconhecido. Entretanto, analistas do mercado financeiro projetam que podem estar presentes em um recorte significativo entre 7 ou até mesmo 10 anos.
Nos primeiros 20 dias de 2023, o valor das ações das Americanas caiu mais de 80%. Atualmente, o valor de mercado da companhia está avaliado em apenas R$ 1,7 bilhão.