Brasileiros se preparam para votar no segundo turno das eleições 2022. No dia 30 de outubro será definido o novo presidente da república. Com uma diferença de 6 milhões de votos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enfrentará Jair Bolsonaro (PL), determinando assim os próximos 4 anos do país. Abaixo, um cientista político tira as principais dúvidas sobre as candidaturas. Confira:
Se você ainda não sabe em quem votar no segundo turno das eleições 2022, fique atento. Para a presidência da república, a disputa está entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro. Abaixo, o FDR convidou o cientista político Caio Rabelo para uma entrevista exclusiva. Mestre pela Universidade de São Paulo (USP), ele traz as principais informações sobre as candidaturas. Confira:
Quem não votou no primeiro, pode votar no segundo?
Pode e deve! A pessoa tem até 60 dias para justificar sua abstenção no primeiro turno. Ou seja, se não votou no primeiro turno, ainda está elegível para votar no segundo.
Eleições 2022: Lula e Bolsonaro relembram suas trajetórias políticas em DEBATE na BAND
Até o momento quem aparenta ter mais chances de ganhar as eleições, Lula ou Bolsonaro?
Lula, que abriu 6 milhões de votos de vantagem. Também temos a evidência de que até hoje, nenhum candidato conseguiu efetivar uma virada no segundo turno de uma eleição presidencial. Todavia, Bolsonaro dispõe da máquina administrativa e está cometendo crimes eleitorais em sequência. No ocaso de seu governo, precisamos seriamente fortalecer as instituições de governança eleitoral, que no momento estão enxugando gelo.
Quando o novo presidente toma posse do seu cargo?
No dia 1° de janeiro de 2023.
Até lá, quem fica governando o país?
Bolsonaro, que normativamente tem de organizar a transição de governos.
Caso Bolsonaro venha a perder, ele pode suspender projetos como o Auxílio Brasil?
Fico bastante preocupado com isso. O governo Bolsonaro já está fazendo um cenário de terra arrasada para o próximo governo, independentemente de quem vença. Dia sim e dia também, verbas estão sendo desviadas de para manter o esquema inaceitável do orçamento secreto. Foram 3,3 bilhões da saúde, por exemplo. Em relação ao Auxílio Brasil, o governo pode muito bem contingenciar recursos do Ministério da Cidadania e dificultar o acesso aos benefícios, causando uma situação de calamidade social até o dia 1° de janeiro.
O que esperar da economia brasileira até a posse do novo chefe de estado?
O cenário interno vem sendo positivo para o governo nesse recorte eleitoral, muito em função das medidas populistas adotadas pelo governo Bolsonaro. Em um cenário de vitória de Lula, imagino que Bolsonaro imediatamente tentará desfazer o pacote de bondades, e isto pode deprimir ainda mais uma economia que já vem há 4 anos com crescimento pífio. Caso Bolsonaro seja reeleito, fica a dúvida de como o governo conseguirá manter a popularidade uma vez que está praticando estelionato eleitoral. Vai derrubar todos os auxílios (taxistas, caminhoneiros) e diminuir o valor do Auxílio Brasil, como já está previsto no PLOA 2023.
A gasolina e a cesta básica ficarão mais caras em possível vitória de Lula?
Acho que o mercado já precificou uma vitória de Lula e o ex-presidente vem fazendo acenos mais do que generosos em direção aos agentes econômicos, com a adesão de figuras históricas na confecção e manutenção do Plano Real como Edmar Bacha, Pérsio Arida e Arminio Fraga. É possível que exista um choque momentâneo pela troca de governo, mas temos de lembrar que a inflação já está alta e Lula já fez o movimento de debelar a inflação em 2003, inclusive aumentando bastante a taxa de juros.
Qual dos dois candidatos devem gerar um impacto mais imediatista e positivista no bolso da população?
Como falei anteriormente, o cenário previsto para Bolsonaro é de estelionato eleitoral – na verdade não é nem estelionato, porque o governo já prevê reduções dos benefícios no PLOA 2023, essa discussão apenas não chega para parte da população. Posso estar sendo otimista, mas havendo a vitória de Lula, imagino que o STF imediatamente dará um respiro para o Governo Federal ao proibir o orçamento secreto e esvaziar o poder dos líderes do Congresso. Ou seja, haverá espaço para reorganizar o orçamento e garantir os três pilares que Lula vem frisando em campanha – previsibilidade, estabilidade e credibilidade.
Qual deve ser o futuro da agenda social, manteremos o Auxílio Brasil ou voltaremos ao Bolsa Família? Qual deles é mais benéfico?
Acredito que trazer o Bolsa Família (PBF) de volta com os valores do Auxílio seja o melhor dos mundos. Falo isso porque estamos vendo as condicionalidades do PBF (presença escolar, vacinação em dia) sendo deixadas de lado dia após dia, com queda na cobertura vacinal, por exemplo e estado de alerta para retorno de doenças superadas desde 1989 como a poliomielite. Então é importante trazer essa rede de promoção da cidadania que o PBF instigava de volta e retirar os mecanismos predatórios do Auxilio Brasil (empréstimos consignados com juros altos, etc.). Além disso, é fundamental criar algum mecanismo de ajuste para que o Bolsa Família não seja suscetível à inflação.
O candidato derrotado pode contestar a votação? Há chances da eleição ser cancelada?
Contestar sempre é possível e acho que provável para o caso de Bolsonaro, que está a anos pregando contra a segurança das urnas eletrônicas. Foi um precedente muito ruim que o então candidato Aécio Neves abriu em 2014 e fortaleceu esse nível de corrosão na vida democrática que estamos vendo hoje. Acho que o cenário internacional hoje é desfavorável a aventuras golpistas – tivemos populistas de direita reconhecendo derrotas no Chile e na Colômbia recentemente, e o Congresso dos EUA passou uma resolução pedindo que o resultado das urnas fosse respeitado aqui no Brasil. Então acho que haverá contestação dos resultados sim, mas considero impossível que a eleição seja cancelada. Me preocupa mais o cenário em que Bolsonaro não reconhece que perdeu e se recusa a deixar o poder pacificamente, gerando uma tensão social e entre os poderes que será difícil de solucionar.