Diferente do que muitos esperavam, a eleição presidencial não foi definida no último domingo, 2. O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva ficou à frente do candidato Jair Bolsonaro, do PL, mas não o bastante para se tornar o novo presidente do Brasil. Como isso, na visão de analistas, se Lula quiser ganhar no segundo turno precisará se adaptar ao movimento conservador e depois conseguir trabalhar com um Congresso voltado à direita.
“Para ocorrer essa diferença no resultado do Bolsonaro em relação às pesquisas, cujos votos foram subestimados vergonhosamente, (a razão) não foi a economia —o que estamos vendo é uma onda conservadora”, disse à Folha a economista e advogada Elena Landau, que coordenou o programa econômico da candidata Simone Tebet (MDB).
“Tem o astronauta Marcos Pontes virando senador por São Paulo, Hamilton Mourão ganhando no Rio Grande do Sul, Magno Malta voltando pelo Espírito Santo, Eduardo Pazuello, o ex-ministro da Saúde, como deputado federal mais votado no Rio. Isso não tem nenhuma relação com a economia”, complementou.
A economista afirma ter ficado satisfeita com o resultado obtido por Simone Tebet nas eleições. “Simone foi de completa desconhecida à terceira mais votada”, disse ela à Folha. Ela porém, se diz severamente preocupada, caso Bolsonaro seja eleito, com os possíveis efeitos desta onda conservadora em duas áreas específicas: o meio ambiente e o STF (Supremo Tribunal Federal).
“O próximo presidente poderá indicar dois ministros para o Supremo”, afirmou ela. “Imagine o efeito disso.”
Elena agora espera para saber qual será o posicionamento de Tebet no segundo turno. Caso Simone apoie o candidato Lula, existe uma esperança de que uma parte de suas propostas para a economia possam ir para o PT.
Na visão do economista Nelson Marconi, que trabalhou na coordenação econômica nas campanhas do candidato Ciro Gomes (PDT) tanto em 2018 como em 2022, a melhora na economia não explica este resultado das urnas
“No levantamento que encomendamos, dá para ver que o governo Bolsonaro injetou cerca de R$ 450 bilhões na economia neste segundo semestre, com medidas em diferentes áreas, então, as pesquisas teriam de estar muito erradas para não captarem isso antes. Acredito que ocorreu outro movimento, mais ligado a agenda dos costumes”, disse ele à Folha.