- Contas de consumo fazem parte do superendividamento dos brasileiros;
- Pandemia e guerra na Ucrânia influenciam no encarecimento de produtos e serviços;
- Dificuldades de manter despesas da casa amplia endividamento.
Uma pesquisa realizada pela Proteste indica que 23% dos brasileiros estão “muito endividados”, atingindo um patamar 5% maior do que a análise feita no mesmo período em 2021. O superendividamento se tornou um problema grave no Brasil, tendo em vista que se expandiu para contas de consumo básicas, como energia, telefone, luz, água e internet.
Um fator que certamente influencia na situação dos brasileiros endividados é a alta da inflação que atingiu os dois dígitos em 2021. O recente aumento dos combustíveis junto ao encarecimento de itens básicos como alimentação e demais insumos são outro forte exemplo de como o poder de compra dos brasileiros foi afetado, se estendendo a compromissos fixos conforme mencionado.
De acordo com o diretor da entidade Proteste, Henrique Lian, 26% dos brasileiros endividados possuem débitos em atraso há meses. Uma boa parte dos consumidores precisaram recorrer a compras no cartão de crédito, enquanto 83% recorrem ao parcelamento das compras e outras despesas com o auxílio desta ferramenta.
Lian explica que essas despesas parceladas se estendem a alimentos, supermercados e farmácias. “Isso leva a uma bola de neve. O consumidor vai levar entre quatro e seis meses para quitar o parcelamento que fez no mês atual e no mês seguinte vai ter novamente que comprar seus remédios e alimentos”, ponderou o diretor da Proteste.
Lian também aproveitou para explicar que as principais causas apontadas para o superendividamento da população brasileira são o desemprego em massa, situação que se tornou ainda mais crítica após a chegada da pandemia da Covid-19 no Brasil, bem como a inflação em alta.
A situação se agravou ainda mais em determinados momentos durante a pandemia, nos quais o cenário ficou bastante crítico.
Neste sentido, nota-se que a projeção feita pela entidade não é positiva a curto ou médio prazo. Pelo contrário, o resultado mais evidente foi o encarecimento da cesta básica, que deve crescer ainda mais em um futuro próximo em virtude das fortes chuvas que atingiram determinadas regiões no país logo no início deste ano. O repasse do aumento no diesel ao setor de transporte também deve continuar.
Além do mais, também existe uma certa preocupação sobre os insumos relacionados ao agronegócio, cujo preço cobrado é em dólar em meio à forte expansão do setor em 2021, levando a um impacto nas carnes. Destacando que a guerra persistente no leste europeu, mais precisamente entre a Rússia e a Ucrânia, também é responsável pela instabilidade nos preços.
Comparação do superendividamento entre 2021 e 2022
Muito endividado
- Fevereiro de 2021: 13,9%;
- Fevereiro de 2022: 17,4%;
Mais ou menos endividado
- Fevereiro de 2021: 24,4%;
- Fevereiro de 2022: 26,7%;
Pouco endividado
- Fevereiro de 2021: 28,4%;
- Fevereiro de 2022: 32,6%;
Não possui dívidas
- Fevereiro de 2021: 33,2%;
- Fevereiro de 2022: 23,4%.
Endividamento por faixa de renda
Considerando o cenário das famílias com renda de até dez salários mínimos, cujo piso nacional está fixado em R$ 1.212, o número de brasileiros endividados com débitos em atraso bateu um novo recorde. Neste montante, 30,3% das famílias brasileiras possuem uma renda mensal de até R$ 12 mil, e ainda assim encerraram o mês de fevereiro com contas atrasadas.
No que compete aos brasileiros endividados com renda superior ao patamar mencionado, o percentual de atraso já chegou a 12,6%, se consolidando como a maior taxa desde 2018. Por fim, se tratando das famílias com renda acima de R$ 12 por mês no Brasil, a taxa de endividamento chegou a 72,2%, sendo o maior índice registrado para esta faixa de renda.
Categorias das dívidas no Brasil em fevereiro de 2022
- Cartão de Crédito: 86,5% ;
- Cheque Especial: 5,7%;
- Cheque Pré-Datado: 0,6%;
- Crédito Consignado: 6,5%;
- Crédito Pessoal: 9,2%;
- Carnês: 19,9%;
- Financiamento de Carro: 11,7%;
- Financiamento de Casa: 9,1%;
- Outras dívidas: 2,0%;
- Não sabe: 0,1%.