- Variáveis macroeconômicas decorrentes da guerra impactam os fundos imobiliários;
- O mercado imobiliário já passava por dificuldades antes do conflito;
- Especialista alega que cotas de fundos estão muito depreciadas.
Devido à escalada da guerra na Ucrânia, o mundo tem passado por uma crise na cadeia de suprimentos. Por conta deste cenário, o cenário de inflação e juros altos deve se prolongar no Brasil, e também no mundo. A indústria de fundos imobiliários tende a ser afetada, segundo especialistas consultados pelo Valor.
A crise na cadeia de suprimentos acontece após as sanções aplicadas pelo Ocidente contra a Rússia. Devido a isso, pessoas pelo mundo têm observado um aumento de preços — especialmente de matérias-primas.
As dificuldades de oferta de matérias-primas pioraram, principalmente nos setores de alimentos e energia.
O primeiro acontece devido à forte representação da Rússia e Ucrânia no comércio mundial de grãos, como milho e trigo. Já o segundo ocorre pela Rússia ser grande produtor e exportador de petróleo e gás natural no planeta.
Como os fundos imobiliários no Brasil são afetados pela guerra na Ucrânia
Por conta da relevância das duas nações na comercialização de algumas commodities, o choque de ofertas — causado pela guerra — provoca um aumento nos valores de matérias-primas pelo mundo.
Ao mesmo passo em que os custos são repassados, há o aumento da inflação. Consequentemente, a população tende a ser afetada. Como forma de controlar a inflação, o Banco Central passa a aumentar a taxa básica de juros.
Segundo o sócio da Alianza, Fábio Carvalho, será observado um prolongamento do cenário e inflação pelo mundo. Ele explica que, nesta linha de raciocínio, a guerra afeta a indústria de fundos imobiliários.
Em meio às projeções de elevações dos juros ao longo do ano, a expectativa de redução da taxa Selic no curto prazo.
De acordo com o gestor da Fator Administração de Recursos, Rodrigo Possenti, conforme as perspectivas locais têm piorado, essa categoria se torna menos atrativa em relação a risco e retorno.
Isso ocorre porque os investimentos de renda fixa passam a proporcionar maior rentabilidade — devido ao ciclo de aumento da Selic, e com menor risco.
Além da situação de condução monetária, a guerra ainda provoca uma incerteza imediatista a mais, porque cria uma preocupação geopolítica. Este cenário ainda permanece indefinido.
Brasil já passava por dificuldades para o mercado imobiliário
Mesmo diante de reações momentâneas e avessas ao risco pelos investidores, o diretor da JLP Asset Management, Fábio Bergamo, destaca que o país já passava por um panorama não muito favorável para o mercado imobiliário.
O setor tem dificuldade de guinar por conta do aumento da Selic, com uma persistente inflação — em um nível alto — e um quase inexistente desenvolvimento da economia. Consequentemente, a classe de fundos imobiliários tende a ser impactada.
Bergamo argumenta que a guerra é um elemento adicional dentre os fatores que já proporcionavam um grau de incerteza para ter menos otimismo com esse mercado.
O diretor da JLP acredita que, pelo menos em um cenário de curto prazo, os valores embutidos nas cotas dos fundos imobiliários já refletem a deterioração na conjuntura econômica e os impactados da guerra.
Segundo o executivo, mesmo que a classe apresente algumas oportunidades — como fundos com preços atrativos em relação ao valor patrimonial, e com bons portfólios —, a atual conjunção de fatores macroeconômicos oferece pouca visibilidade sobre quando vai melhorar situação.
O gestor da Fator reconhece que, com o maior patamar de elevação de juros, o investidor tende a migrar para investimentos mais seguros.
Apesar disso, ele destaca que este ciclo de aumento de juros se trata de uma política monetária. Por conta disso, este momento pode ser de oportunidade. Isso porque as cotas dos fundos são “bastante” depreciadas.
De qualquer modo, Possenti destaca a necessidade de buscar entender o nível que pode tomar o conflito na Ucrânia. Isso caso o cenário piorar.
Com relação a este conflito, o gestor ressalta a dificuldade de entender as próximas ações do presidente da Rússia. A guerra entre os dois países acontece desde 24 de fevereiro, quando Putin anunciou que ordenou que suas tropas invadissem o país vizinho.