- Número de desempregados cresce nos últimos dois anos;
- Pnad Contínua chama a situação de "desemprego de longa duração";
- Trabalhadores têm dificuldades de retornar ao trabalho formal após a pandemia.
Dados apurados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua durante o primeiro trimestre de 2021, apontaram que cerca de 3,48 milhões de brasileiros se encontram na situação de desemprego há cerca de dois anos. A pesquisa denominou esta situação de “desemprego de longa duração” após bater o recorde com o índice mais alto desde 2021.
Este número representa uma margem de 23,6% de desemprego no Brasil durante o período mencionado. No total, o país soma mais de 14,8 milhões de desempregados. Deste total, 412 mil profissionais foram incluídos na situação de desemprego em virtude da pandemia da Covid-19.
Até então, o recorde anterior foi registrado no segundo trimestre de 2019, época em que o desemprego atingiu 3,347 milhões de trabalhadores também pelo período médio de dois anos. Marcelo Freitas, de 29 anos, por exemplo, está há quatro anos sem um emprego fixo, seja ele formal ou informal.
No ano de 2019 ele iniciou um curso para se tornar um organizador de eventos e recreação credenciado. Desde então tem feito trabalhos temporários, condição que se tornou permanente após a chegada da pandemia, destruindo os sonhos de estabilidade profissional por tempo indeterminado.
Conforme apurado, estes números são resultados de uma antiga crise no mercado de trabalho, o qual ainda não conseguiu se recuperar, pelo contrário, apenas se agravou com o decorrer do tempo.
Em 2020, por exemplo, 3,075 milhões de trabalhadores estavam à procura de emprego por, pelo menos, dois anos.
Em outras palavras, o grupo de desempregados teve um aumento de 412 mil profissionais a mais nesta condição durante a pandemia, ou seja, 13,4%.
Uma das maiores preocupações diante de tamanha proporção do desemprego em território brasileiro é que os trabalhadores caiam no desalento e parem de se preocupar em adquirir um novo posto de trabalho.
No primeiro trimestre deste ano, foram identificados seis milhões de brasileiros nesta condição.
Outro fator consiste na situação de profissionais capacitados e formados que aceitam uma vaga temporária ou um cargo inferior por medo de não conseguirem reingressar no mercado de trabalho após um longo período de desemprego.
A Pnad Contínua identificou 5,6 milhões de trabalhadores exercendo a profissão fora dos parâmetros esperados.
É o caso de Marcelo Henrique, que após quatro anos desempregado, aceita a primeira vaga que surgir para ele.
“Trabalhei como operador de telemarketing por dois anos, então procuro nessa área. Só que, quando as pessoas veem meu currículo, acham ruim que eu não tenho outras experiências e estou sem nada há muito tempo, mas ninguém me contrata, como vou ter? Agora eu estou atrás de qualquer coisa, faxina, gari, aceito tudo”, desabafou.
O economista Ely José de Mattos, explica que a reinsserção parcial no mercado de trabalho em diferentes circunstâncias é fruto do desespero, que leva o trabalhador a buscar por alternativas distintas. No geral, aceitam quase ou toda oportunidade que se apresentarem para eles.
“Há possibilidade de essas pessoas irem para uma situação de pobreza muito grave, dependendo do apoio de programas sociais, ou de migrarem para a informalidade. Agora, que tipo de trabalho será esse? Existe toda uma discussão sobre a qualidade dos negócios por conta própria”, explicou o economista.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também apontaram que o número de desemprego no período de um ano a menos de dois anos também é expressivo.
Foram 2,557 milhões de trabalhadores em situação de desemprego nesse período de tempo, o que representa um aumento de 58,4% em comparação ao mesmo período no ano de 2020.
No ano passado, considerando o prazo mencionado haviam 1,614 milhão de desempregados, agora somando 943 mil pessoas nesta condição. Foi então que Tobler, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explicou que para haver retomada efetiva dos postos de trabalho, é preciso que o cenário econômico se estabilize.
Ele acredita que a situação voltará a melhorar somente com o progresso da vacinação contra a Covid-19. A imunização da população brasileira é vista como a principal medida capaz de amenizar as restrições em diversos setores, como o de serviços, responsável pelo maior número de geração de empregos no país.