As cenas de pessoas grudadas em filas da Caixa Econômica Federal para receber o auxílio emergencial entrarão para história. Quando é esperado o pico da curva de contágio no Brasil de um vírus altamente transmissível, o que se vê é uma situação que deixa especialistas extasiados. Por todo país filas (muitas vezes quilométricas) se espalham em frente as agências da Caixa, os governos locais correm para tentar organizar junto ao banco público – mas pode ter sido tarde demais.
Este é o cenário que temos em diversas cidades do Brasil, de norte a sul. O saque do auxílio emergencial em dinheiro começou a ser liberado em meados de abril, e desde então, diariamente estas filas e aglomerações são registradas e amplamente divulgadas pela a imprensa.
É bem verdade que os governos locais e a própria Caixa correram para tentar organizar os pagamentos e evitar aglomerações, entretanto não está sendo suficiente. O próprio presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse que seria impossível acabar com as filas.
As medidas esbarram diretamente em dois fatores: a urgência pelos recursos, bem como a falta de consciência do momento que estamos passando por parte da população. Poderíamos, claro, discorrer aqui inclusive sobre aspectos comportamentais do brasileiro, a falta de hábito no uso de máscaras, dentre tantos outros, mas seria se alongar demais para um assunto que precisa ser tratado com clareza e agilidade.
Com um sistema de saúde já perto do limite em muitos Estados e com a expectativa de atingirmos o pico do contágio agora em maio, as filas desorganizadas em frente as agências da Caixa são a receita para um desastre. É importante frisar que o contagio de hoje só se reflete nos números oficiais daqui a uma ou duas semanas.
Por certo as aglomerações elevarão o contágio principalmente no interior do Brasil, onde a taxa de isolamento já é naturalmente mais baixa e a rede bancária da Caixa muito menor – concentrando ainda mais pessoas.
As consequências disso serão fatais para milhares de pessoas. Para se ter uma ideia, a taxa de mortes totais nas 5 cidades mais atingidas aumentou 30% em relação a outros anos.
É difícil conceber como uma atitude simples (mas que diminuiria em diversos graus as atuais aglomerações) como fazer o pagamento através de TODA A REDE BANCÁRIA ainda não foi colocada em prática. Governadores já solicitaram tal ação, mas essa é uma decisão que provavelmente não virá a esta altura do campeonato.
O Governo Federal teve a chance de fazer algo parecido lá trás, na montagem do programa Auxílio Emergencial, quando tinha-se a possibilidade de utilizar a rede bancária do Banco do Brasil e dos Correios (além da Caixa), mas não o fez, sabe-se lá porquê.
As consequências disso e da falta de consciência da população poderá fazer com que o número de casos, e consequentemente de mortes, cresçam exponencialmente no Brasil.
As agências da Caixa Econômica Federal, um importante agente na inclusão bancária e social do Brasil, estão sendo lentamente transformadas em “matadouros públicos invisíveis”.