Se COVID-19 afeta a economia mundial, por que o real é a moeda mais desvalorizada?

A crise atual do COVID-19 tem afetado diversas economias ao redor do mundo. Além das quedas na bolsa e dificuldades nas empresas, temos visto uma grande desvalorização da nossa moeda.

Entendendo a variação cambial

Para entender a desvalorização de uma moeda temos que entender como o câmbio funciona.

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Para definir o valor de troca entre a moeda nacional e o principalmente o dólar, podem ser usados 3 tipos de câmbio:

  • Câmbio Fixo: Quando o Governo determina autoritariamente o valor da moeda, esse tipo de câmbio acontece pouco pois é necessário gastar muitas reservas para manter a paridade durante crises.
  • Câmbio Flutuante: Este é o caso mais frequente, quando o mercado determina a cotação da moeda, essa cotação oscila todo o tempo.
  • Câmbio Sujo: Esse é o caso do Brasil, tem esse nome porque é uma mistura das duas últimas alternativas. Enquanto o governo permite que o mercado determine o câmbio, nosso Banco Central utiliza uma grande reserva em dólar para amenizar movimentos danosos à economia.

Ou seja, no Brasil temos a oscilação do próprio mercado na nossa moeda, mas ainda temos algumas intervenções do Banco Central que tentar estabilizar a moeda.

Desvalorização de Mercado

Na parte flutuante do nosso câmbio temos a atuação do mercado financeiro global para determinar o valor do Real.

COVID-19
Se COVID-19 afeta a economia mundial, por que o real é a moeda mais desvalorizada? (Foto: PIxabay)

O valor de uma moeda no mercado está sempre atrelado à confiança no país que a emite. Países com dívidas internacionais mais difíceis de serem pagas, por exemplo, têm a tendência de perder valor na moeda local, como foi o caso da Argentina no último ano.

A confiança dos investidores com relação ao Brasil pode ter caído por alguns fatores:

  • Dependência da demanda Chinesa – O Brasil é um país majoritariamente exportador, e a China é hoje nosso maior cliente. Essa proximidade com o país que primeiro sofreu com o coronavírus pode ter alertado o mercado internacional.
  • Preço de Commodities – Mesmo antes da crise, os preços das commodities despencaram no mercado internacional, principalmente do petróleo, como esses produtos são nossa principal fonte de receita, a queda nos preço afetou a confiança na nossa moeda.

O valor da moeda também depende da oferta e demanda, ou seja, quantas pessoas querem comprar Real versus quantas pessoas querem se desfazer do Real.

Talvez esse último ponto tenha sido o principal fator de desvalorização, como somos um país em desenvolvimento temos uma moeda considerada “fraca” no cenário internacional, com os primeiros sinais de recessão é natural que grandes investidores queiram vender seus Reais para comprar moedas mais “fortes” como o dólar.

Além da moeda, a saída de investimentos também impacta no câmbio. quando estamos em um momentos de crescimento existe entrada de capital estrangeiro na nossa bolsa, isso valoriza o Real.

O contrário é similar, com a crise o investidor estrangeiro retirou o dinheiro da nossa bolsa e enfraqueceu nossa moeda.

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Esse movimento de saída de capital e fuga dos investidores para o dólar é muito comum em crises internacionais e não afeta só o Brasil, porém se juntando com a queda na confiança do mercado podem justificar uma desvalorização maior da moeda Brasileira nesse momento da crise do COVID-19.

Atuação do Banco Central

Mesmo sendo a moeda com a maior desvalorização durante esse período, o nosso Banco Central trabalhou bastante para evitar um cenário pior.

Ao que tudo indica, a soma do cenário anterior à crise com a fuga do capital estrangeiro do Brasil poderiam causar uma desvalorização ainda maior.

Nesses casos, o Banco Central utiliza os recursos do Fundo de Reservas Internacionais. Criado justamente para esses momentos, o fundo impede movimentos mais graves que poderia trazer de volta uma hiperinflação.

Somente no mês de março, foram utilizados US$ 15 bilhões para controlar o câmbio e preservar o valor do Real.

O fundo internacional iniciou esse ano com o menor saldo desde 2015, o total em janeiro era de US$ 341,15 bilhões alocados principalmente em títulos do tesouro americano.